VOCÊ JÁ PAROU PARA SE PERGUNTAR PORQUE VOCÊ PRECISA DOS PAIS
QUE VOCÊ TEM?
...Lembro perfeitamente dos momentos de minha primeira
infância...
Renasci em um ambiente familiar hostil, onde qualquer erro
infantil era motivo para repreensões e agressões físicas, ameaças verbais e
ameaças com o “olhar”, lembram aquele trocadilho: bastava meu pai me olhar que
eu já sabia que era o momento de retroceder. Pois é, alguns acham que isto é
receber educação, eu já acho que é o cúmulo da ameaça, pois fazia com que me
senti – se a pior e mais errada criatura da face da terra.
Vivi em um lar onde as traições conjugais eram freqüentes e
escancaradas, por longos anos olhei para os olhos marejados e inchados de minha
mãe e me perguntei o que é que acontecia dentro dela...
Lembro de míseros carinhos paternos e nenhum materno... Mas
recordo muito as surras, a dor das agressões físicas e os berros que recebi em
xingamentos por não concordar ,inocentemente, com algum absurdo “adulto” que
eles acreditavam...
Não tive muitos brinquedos e lembro de ter sonhado que os
tinha, lembro de fechar os olhos e me sentir tocando tudo que minha idade e
alma infantil almejava...
Lembro das coisas que não entendia, das acusações sem
fundamento e de não poder falar que eu não fizera o que me acusavam... E lembro
até hoje que aos 9 anos de idade, por uma “aventura” infantil, meu pai perdeu a
paciência, que ele nunca tivera, e ter me mandado sair de casa. Lembro que eu
não sabia o que fazer, eu só conseguia sentir um medo enorme dentro de mim e não
ter ninguém para me proteger... Lembro – me de ter deitado na minha cama,
totalmente sem rumo e ter afogado minha dor olhando o mágico de Óz... Eu não
fui embora como ele mandou... Eu não sabia o que ou para onde ir...
Lembro da extrema simplicidade que era a nossa casa, nossos
pertences e a vida de trabalho e lutas diárias de meus pais...
Lembro de minha pré - adolescência, dos momentos de dúvidas,
da descoberta do corpo, e de estar sozinha... Lembro – me de viver em um local
com duas pessoas com rótulos de pais que viviam alienadas a minha condição de
filho e de alma ávida por informação...
Lembro de ter crescido sem diálogo e lembro muito das vezes que voltei a apanhar fisicamente por discordar de
atitudes e palavras que me eram inseridas “goela a baixo”...
Lembro de olhar para a família dos amigos e desejar ser
acariciado daquela forma, de ter uma amiga como a mãe de minhas amigas e a
delicadeza dos pais dos meus amigos no meu próprio pai...
Lembro da adolescência... de necessitar orientação em todos
os aspectos e não te – las... Lembro de tudo ter de ser feito escondido, com
medo...
Lembro de ter feito coisas de adolescente, naquela década,
namorar era segurar na mão e dar beijo selinho, baixando a cabeça com rubor..
era a melhor experiência do mundo viver na década de 90. E lembro de ter sido
xingada de nomes pejorativos pelos meus pais, de ser acusada de atitudes
adultas e de ser “mulher”... e estar me “perdendo”... Sendo que eu não estava
fazendo nada de mais...
Lembro de sonhar com um futuro, de imaginar – me fazendo
coisas maravilhosas e de ter ouvido a risada de minha mãe me dizendo que eu não
tinha capacidade... Lembro das humilhações em público, de ser mandada calar a
boca porque os adultos é que detinham a verdade...
E mais do que tudo, lembro das brigas físicas de meus pais
dentro de casa, de destruírem os móveis, de se acusarem e se agrediram para que
todos vissem... o que mais me doía é que quando não tinham no que descontar a
raiva e a frustração por viverem aquela vida, descontavam nos filhos a ausência
de atitudes para mudarem...
Sim, lembro de tudo ainda lembro da dor que eu sentia,
lembro do meu irmão sofrer e não saber como lidar com a mesma dor que eu também
sentia...
Lembro de no desespero do auge das agressões “criar” uma
coragem desesperada e pedir que parassem... Se eu pudesse descrever meu
desespero naqueles momentos, eu diria que vivi grande parte de minha vida
dentro de um campo de concentração, onde éramos tratados como seres sem vontade
própria...
Lembro...
E por muitos anos depois que saí de casa eu ainda vivi
aquele inferno dentro de mim... Chorei o que não tive, o que não ganhei, e os
pais que não foram para mim o que eu esperava...
Por muito tempo guardei a mágoa, escondi a raiva e a
impotência e segui de cabeça baixa pela vida escutando inconscientemente a risada de minha mãe, dizendo – me que eu
não era capaz...
Em nenhum momento dentro de nossa casa foi mencionado a
existência de um Deus, de um poder superior que eu poderia pedir socorro... Os
dois filhos daqueles pais nunca receberam uma formação, uma religião...
Lembro ainda hoje da adoração que eu sentia pelo meu pai,
lembro dos meus olhos adorando ele aonde quer que ele estivesse e lembro de ser retribuída com espancamento e
nomes pejorativos... E lembro de continuar amando – o acima de minhas forças e
de minha compreensão...
Não lembro de ter sido abraçada ou acariciada pela minha
mãe... O que lembro é da visão de uma mulher amarga, frustrada, traída e
sozinha, que tinha que cuidar de duas crianças e aceitar um amor doentio que
ela nutria pela figura do meu pai..
Lembro de ter começado a trabalhar muito cedo, de cuidar da
casa, de ter deixado de lado os estudos...
Lembro de ter uma única peça de roupas para o ano inteiro de
colégio e de ouvir colegas rindo de que minha roupa “iria caminhar
sozinha”!!... Enquanto meu pai pagava festas e mulheres na rua...
Lembro de muita coisa e por muitos anos me senti a pior
criatura do mundo, me senti culpada por merecer aquele tratamento, me senti
menos do que todos que cruzavam meu caminho...
Lembro de não erguer os olhos e olhar para as pessoas,
seguindo um medo instintivo que eu nutrira em casa, com medo de afrontar alguém
com minhas crenças e ser agredida...como o era em casa...
Por muito tempo culpei – os... E sofri com esta constatação...
Como eu poderia amar tanto duas pessoas que fizeram da minha vida um inferno,
que dilapidaram minhas forças, minha auto – estima e me roubaram a fé? Como eu
poderia sofrer com tanto amor trancado em meu peito por duas pessoas que sequer
pensavam em mim, na minha felicidade ou no que haviam me feito passar?
Sim, eu sofria por ter tanto amor por eles...
E eu comecei a entender que minha mágoa em relação a estas
duas pessoas era amor, um amor reprimido e medroso de ser rechaçado como haviam
feito comigo...
Quando meu filho nasceu, eu era uma adolescente de 17 anos e
foi ele que me mostrou a dor que eu não entendia nos meus pais... Foi a chegada
de meu filho que me mostrou que as almas estão doentes e que dependendo do
ciclo de evolução em que se encontram, ou elas buscam ajuda ou afundam com elas
qualquer tipo de relacionamento em que se envolvam, e isto inclui o
relacionamento com filhos também.
Lembro de uma adolescência conturbada, festas de sexta –
feira a segunda – feira... Lembro do álcool ser lícito dentro de casa e de
termos contato com ele desde crianças, pois era permitido toma – lo com
açúcar...
Lembro que era normal presenciar a embriaguez, o fumo, a
traição conjugal...
Lembro que para sorrir, era preciso alguns copos de bebida
alcoólica entre meus amigos, também adolescentes...
Lembro de tudo isto, mas de algo gritar desesperadamente
dentro de mim me dizendo que havia outro caminho e que aquele era uma
armadilha.
Lembro de ter de lidar com uma mediunidade aflorada,
desequilibrada, de ouvir vozes e ver “pessoas” que durante a madrugada vinham
me agredir ou pedir alguma coisa... Lembro de ter que manter isto em silêncio
apesar do pânico que me causava...
Sim, lembro... Lembro de muitas coisas e principalmente de
ter vivido alguns anos da vida de meu filho alienada e na mesma condição de
meus pais, de achar normal trata – lo como eu havia sido tratada... Mas lembro
de sofrer com esta atitude e não saber por que, pois eu estava educando como
havia sido educada, e para mim, aquela era a forma de ensinar meu filho...
Com o passar dos anos e não me encaixando na condição em que
estava e vendo que eu não queria para mim e meu filho aquela vida de
destruição... eu lembro de ter pedido ajuda... Mas desta vez de alguém que eu
nunca solicitara, ajuda de cima, do alto...
E eu fui atendida, por que por mais que eu houvesse sido
criada daquela forma, eu questionava o sofrimento que aquilo causava... E mais
do que tudo, algo dentro de mim gritava desesperadamente que eu não queria
aquilo para minha vida. Eu não queria uma vida desregrada, agressiva, doentia,
regada a álcool e traições para abafar uma consciência que pedia outro caminho.
Foi nesta busca que compreendi os motivos por eu ter nascido
naquela família, foi neste trajeto doloroso e cheio de mágoas e dúvidas que
compreendi que eu trazia todo aquele mundo dentro de mim e que aquelas duas
pessoas com “rótulos de pais”, estavam ali, na hora certa, e no momento certo,
para fazer aflorar tudo aquilo e me fazer lutar contra um monstro adormecido
que despertava dentro de mim, me levando para um caminho sem volta. Entendi que
não eram os culpados pela minha dor e que eu a trazia dentro de mim, resgatando
o que eu mesma havia plantado...
Quando cheguei ao acompanhamento profissional não
tradicional, que visava a regressão de memória, um novo mundo se abriu para
mim, e eu engoli todas as vezes que eu repetira esta famosa frase: EU NÃO PEDI
PARA NASCER!!!!
SIM, eu havia pedido para nascer, eu queria nascer entre
aqueles pais desequilibrados. Pude presenciar meu espírito aproximando – se
para conhecer minha futura mãe quando ela ainda contava 13 anos de idade. Eu
sabia o que me esperava, eu sabia o que teria de passar... e mesmo assim, EU
PEDI PARA NASCER E SER FILHA DESTAS DUAS PESSOAS...
Somente no contato com estas duas almas eu poderia perceber
o que havia dentro de mim, poderia ver na teimosia deles a minha própria, no
contato com a arrogância deles, eu poderia perceber a minha... e eu só aceitei
que era arrogante, quando comecei a tratar meu filho como era tratada, como se
eu fosse a dona de uma verdade... que não possui donos...
No contato árido com estes pais eu despertaria a minha falta
de auto – amor e respeito e presenciaria a necessidade de dar amor aos outros,
independente do que acontecesse para me machucar, eu havia nascido para ser
melhor e perceber que eu poderia ser diferente do que era ensinada a ser...
Somente no convívio com estes pais, eu poderia aceitar que
algo novo podia ser ofertado aos meus filhos quando eu os tivesse... no contato
paterno eu entenderia que precisava incentivar
– me, acalentar – me, dar – carinho e respeito e não esperar que alguém
suprisse esta “auto – falta” em meu espírito.
Quando aceitei que eu era um ser teimoso, eu compreendi que
eu era igual aos meus pais e que precisava mudar e não ficar no papel de vitima
que eu sempre estivera, me sentindo mal amada, lesada, prejudicada pela ignorância
afetiva , moral e emocional daquelas pessoas...
Ao ser “obrigada” por mim mesma, a nascer naquele lar, eu
estava pedindo aos meus amados mentores que me mantivessem exatamente no lugar
que eu precisava estar, pois se houvesse nascido em outro lar, em outra
família, eu não teria vencido minhas falhas morais e de comportamento e não
teria moldado o caráter da mulher em que estou hoje.
Hoje, eu consigo ver que tudo foi perfeito e que sim, existe
o momento certo, as pessoas certas e os acontecimentos planejados, basta que
deixemos de lado o comportamento BIPOLAR, por não conseguir que as coisas sejam
como ACHAMOS que devem ser e sigamos o rumo do horizonte, onde encaramos o que
temos, quem somos, o que temos que mudar e aceitando as pessoas de nossa vida
como elas são. Não podemos muda – las, elas só mudarão quando estiverem
prontas, assim como nós.
Hoje sei que se eu houvesse nascido em outro lar, com um pai
amoroso, uma mãe amiga, com posses financeiras e muito carinho, eu não teria
acordado a doença que trazia no meu espírito e seria mais um a ser visto e
rotulado como: - olha lá tem tudo que quer, tem amor, pais maravilhosos, uma
vida de fartura, proteção e não vale nada. Quantos de nós já presenciou ou
disse esta afirmação observando alguém ou alguma família? Eu já fiz isto, muitas
vezes e hoje sei que escolhi estar na família que estou inserida, com os pais
que escolhi, com os aprendizados que arquitetei para que me esperassem por
aqui... Só isto poderia me fazer ver quem eu era e quem me tornaria.
Hoje, eu voltei – me para outro caminho, o que vivi me
mostra que devo, para sentir felicidade, fazer pelo meu filho o que meus pais
não conseguiram fazer por mim. Confesso que ainda sou um pouco rígida com ele,
que as pessoas questionam esta rigidez... eu sei o que meu filho veio curar, eu
sei e ele me mostra o que devo fazer por ele, ele me escolheu e entregou em
minhas mãos a responsabilidade de guiá – lo até o momento que não mais precisar
de mim. Sim, ainda não tolero certas atitudes e caminhos que talvez ele se
sinta impelido a buscar e sim, sou uma sentinela, uma eterna sentinela, pois
sei que enquanto eu for responsável por ele, tenho de estar a apostos e não
recompensa – lo para compensar o que não tive. Tenho de entrega – lo a Deus,
melhor do que quando ele desceu para meus braços de mãe temporária.
Hoje, eu faço escolhas difíceis para mim e para o bem dele,
hoje eu aprendi a ceder em muito por que permito que ele tenha o direito de
questionar e me corrigir quando me excedo e me acho a dona da verdade... uma
verdade que é condizente com a mente individual de cada um...
A infância difícil me ensinou a pensar e ver o que pode e o que não pode e me
ensinou que quando a vibração é bipolar, é por que minha intolerância ou
arrogância não está sendo satisfeita, ou seja, as coisas não estão como EU
QUERO, e entendo que as coisas não tem que ser sempre como eu quero e sim como
for melhor para nós dois.
A criação difícil e dolorosa me ensinou que eu tinha dois
caminhos, ser meus pais ou... se r livre para conhecer quem eu posso ser a
partir destas experiência, eu escolhi me conhecer e ver até onde posso me levar e isto apagou
de minha mente a risada de minha mãe, pois entendo que ela foi ensinada assim e
não conseguiu me passar algo diferente. Entendo que ela não fez por maldade,
mas por que não estava pronta para escolher ser diferente...
Hoje, o álcool não entra em minha vida e em minha casa, não há
traições, não há espancamento, não há uma única verdade que faz calar aquele
que quer colocar a sua, somos um conjunto, um corrige o outro, e vamos
seguindo, tentando melhorar, não perder os afetos...
Hoje, eu consigo abraçar meus pais, respeita- los e ama –
los com todas as forças do meu ser, eu fiz a minha escolha porque sou livre e
eu escolhi ser a atriz principal de minha vida, tirando este papel da vitima
que eu encenava. Hoje eu escolhi perdoa – los e ama – los e isto não quer dizer
que eu não lembre do passado com certa dor... Mas esta dor é só para me mostrar
que eu não preciso mais de tudo aquilo, sinto dor porque um dia precisei ser tratada
daquela forma para acordar...
Ao meu filho, ou aos filhos que ainda terei, sei que serei
cada vez melhor, mais consciente... E guardo comigo o eterno alerta: o filho
mostra o que é no berço... Cabe aos pais enxergarem isto... ou não.
Sei que posso ceder até um limite comigo mesma e que com meu
filho é o mesmo...
Eu agradeço aos meus pais, pois acima de tudo, eu os escolhi
por que precisava aprender a dar amor, deixar de ser uma criatura magoável,
desconfiada, fujona e cética em relação ao amor. A dor me ensinou a amar e eu
os amo e seria sua filha outra vez, por que agora, conheço meu poder e sei que
devo compreensão e respeito a eles, por que não foi fácil serem meus pais... o
que havia neles, havia em mim...
Hoje eu sei a resposta do porquê precisei destes pais...
E você, já se perguntou porque precisa estar no “rótulo de
filha ou filho” destes pais?
O que está dentro de você, que você veio veio curar e eles despertam em você?
O que você precisa aprender e eles e o comportamento deles
está tentando te ensinar?
Porque você os escolheu? Porque sua energia os atraiu?
O que você ainda guarda dentro de você e os culpa? Será que
não há um pouco deles dentro de você e você não quer admitir?
O que você escolhe daqui para frente, ser os seus pais,
culpa – los ou ser livre, fazer diferente?
Deixe partir a projeção que você coloca sobre os ombros
destas pessoas e assuma sua força, sua total responsabilidade, seja um
empreendedor, siga em frente, faça da dificuldade um degrau!!
Você já parou para pensar que é ou será pai ou mãe e que
seus filhos vão rotular você e culpa – lo? Ensine aos seus filhos a serem
livres para analisar através do aprendizado que a situação ou pessoa tem para
oferecer e não o ensine a alimentar a vítima!
A vítima amargura eternamente, o empreendedor usa as
ferramentas para crescer e ter autonomia.
E então, você nasceu para ser vítima ou um empreendedor?
Com todo meu carinho, minha experiência, meus erros e meus
acertos.
ASS: filha, mãe, profissional, vítima, empreendedora.