segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Descontratando no Submundo.



E mais um dia acordei me sentindo triste e suja...

Longos anos buscando autoconhecimento, estudando minha alma, focando meu lado interno, dando atenção para todos os avisos e queixumes de minha mente consciente e inconsciente... Mais de oito anos cuidando de mim, observando meus pensamentos, vigiando, reformulando atitudes, crenças... Confesso que raras vezes me sinto cansada desta decisão, mas quando o cansaço vem, confesso que tenho vontade de sumir, como hoje...

Procurei cuidar de coisas externas e observar o que ocorria internamente, o que levei o dia todo para acessar, em dado momento concentrei – me em aspirar o tapete do quarto e me bateu uma vontade enorme de chorar, de sumir daqui e deixar minha alma desfazer – se entre brumas... Para que eu nunca mais precisasse sentir aquela dor emocional oculta, que se escondia de mim e que hora ou outra vinha me perturbar, como um inimigo oculto que te fere e você não sabe por onde começar a se defender...

Me sentia suja, estranhamente pesada, pegajosa, mas eu já havia tomado banho físico... Me sentia insatisfeita, terrivelmente insatisfeita com a situação atual, com o relacionamento atual, com a minha vida... Eu sentia uma vontade enorme de largar tudo, de me separar, mas eu não sabia de onde vinha aquela intensidade, porque o que eu estava vivendo no meu dia – a – dia não era tão ruim para desistir... Aquela angustia fantasma vinha e me apertava, sem me pedir licença... Aquela sensação de incapacidade me esmagava, aquela tristeza estava me ferindo terrivelmente, ao ponto que eu sentia uma solidão enorme, me sentia sem ninguém, mais uma vez sozinha, lutando com forças que meus olhos não viam, lutando com a minha vida diária, que meus olhos presenciavam todos os dias... Eu chamei Wal de todo meu coração e disse: - Cuida de mim e me protege!!( Eu nunca peço para Wal me proteger, porque eu sempre me sinto capaz, forte demais para pedir esta ajuda). E quando fiz isto eu senti uma dor enorme, uma dor solidão, porque a vida tem sido seguir sozinha, sem pessoas físicas, só eu e Wal... E eu tenho feito o dever de casa para me defender, me cuidar, me suprir, porque Wal também tem o que fazer e não pode ser minha babá... E eu chorei porque senti que havia forças mais poderosas me guiando quando eu baixava minha frequência e me sentia cansada, como eu me sentia naquele instante...

Perguntei mentalmente até quando eu ia sentir aquela tristeza e solidão, pois eu vinha lutando a tantos anos para minimizar aquele estado de espírito... Eu não aguentava mais...

Deitei no meio da tarde decidida a entender o que estava acontecendo e logo minha mente se reportava a um plano inferior no submundo, onde imediatamente eu encontrei uma mulher que faz parte de minha vida nesta vida... Abraçamos a mesma pessoa para “orientar” e ele tem nos tomado algum tempo, ocupado nosso pensamento em relação a cuidados.

Sentamos cansadas, de frente para a outra naquela escuridão e desabafamos nosso cansaço, em meus pulsos e nos dela havia algemas que nos prendiam a um contrato com este homem que protegíamos... Olhei para aquilo e uma intensa luz divina incidiu sobre as algemas, enquanto eu dizia para ela que estava partindo, que não aguentava mais aquele pacto de ficar cuidando dele, dos passos dele... Ergui – me e dentro da caixa em que eu estava sentada eu peguei uma chave e abri minhas algemas e as entreguei a ela, se desejasse abrir as suas... Pedi desculpas por não mais poder levar adiante aquele contrato e parti sem dor, sem medo, sem culpa...

Acordei pior, pesada, ofegante, coração com taquicardia...

Tomei um banho e pedi a Wal que me guiasse... Sentei no meu refúgio sagrado, fechei meus olhos e decidi que eu não aguentava mais sentir aquilo e que bastava, que me acompanhasse aonde eu precisava ir... Vi quando a mão de Wal se estendeu e segurei, sendo guiada por um portal que me levou diretamente ao submundo e ao que eu faço por lá quando saio do corpo...

A primeira coisa que meus olhos espirituais viram foi a gigantesca multidão alvoroçada de espíritos cativos daquele lugar árido e sombrio. Uma enorme bancada estava armada me esperando e meus pés tocaram a madeira do palanque de oratória. Eu vestia um lindo vestido longo, imponente... Wal estava ao meu lado, mas nada pronunciou, deixou que eu olhasse para tudo e todos e entendesse o que acontecia. Imediatamente comecei a chorar de culpa e dor... Eu estava em casa, no plano inferior, rodeada de moradores que me reverenciavam e esperavam por minhas ordens... Mulheres, crianças de colo, animais, homens, velhos, jovens, todos na posição de escravos mentais porque isto lhes convinha, lhes aliviava o peso das decisões que eu tinha de tomar por eles. Olhei as montanhas e vales ao redor, senti a obscuridade e a solidão daquele lugar abarrotado de almas desencarnadas e encarnadas que ali se aboletavam, fugindo de tomar decisões na terra, buscando alguém que fizesse isto por eles e os acalentasse...

Faltava algo ali, eu não morava ali sozinha... Eu sentia na minha alma que fora ali resolver algo grave e eu já sentia na alma com quem era, tanto que desci as escadas e andei pelo meio do povo, que me tocava respeitoso, mas ansioso, prevendo minha decisão e o que minha alma precisava fazer. Eu não os tratava com intolerância ou arrogância, eu os amava e cuidava, mas entendia ali, naquele momento, que meus cuidados com eles não fazia bem a nenhum dos lados. Andei por um tapete enorme, que me levava ao longe, em direção a um homem muito alto que me observava de longe, desde o momento que eu havia aportado naquele lugar.

- Tu trouxe Wal, tu nunca trouxe eles aqui!(Ele me disse com calma).

- Eu vim me despedir, não posso mais carregar esta situação, não aguento mais morar aqui, viver desta forma desorganizada e suja...

Travamos ali uma conversação tranquila, mas dolorosa para os dois.

Perguntei se poderiamos caminhar, sair do meio do povo e assim fizemos, até chegar a um precipício, onde uma lua enorme se erguia majestosa. Olhei ela com olhos tristes e sorri: - A lua é a única coisa que nos acalenta neste lugar!

Ali naquele lugar tão conhecido ao meu coração machucado eu falei de minha mudança, do que não conseguia mais manter e suportar e lhe disse que estava indo embora e que gostaria que viesse comigo, que seria algo muito bom.

Ele me disse que não sabia como sair dali, se desligar daquele lugar, seus olhos sempre tristes e perdidos em algum lugar...

Falei que não precisava entender, mas que poderia sair se quisesse...

Vi quando Miguel o envolveu em luz, seu Mentor, mas ele não viu...

Senti o lado esquerdo de meu peito doer fisicamente, pois tenho esta dor nesta vida e presenciei uma energia desprender – se em forma de um laço e me libertar...

Ele nada soube me responder, removi de minha mão esquerda um anel de contrato e o coloquei em sua mão. Ele me abraçou e me chamou de meu Bem, enquanto meu coração chorava os anos de ignorância, a separação daquele momento e aquela multidão dependente de nós dois. Senti encostado no meu peito o coração dele doer, sofrer e não saber como sair dali... Beijei a mão dele com respeito, carinho e parti com wal, pois enquanto conversava -mos eu sentia o Chefe Maior me observando ao longe e eu precisava enfrentar meus medos e ir até ele.

Vi quando Wal me abraçou e em outro instante já estávamos tocando o chão pedregoso de um local sombrio, ali mesmo, no Vale, em uma montanha negra. Entramos sem complicações e notei que em tudo havia espelhos, caminhando por um corredor grosseiro de pedras até que chegamos no topo de uma escadaria suntuosa, de um salão lindamente decorado, onde uma festa de “sub- chefes” ocorria. Todos nos olharam e eu desci a escada, pois o Chefe já se locomovia para um gabinete que eu conhecia, e eu já sabia o que tinha de fazer. Ao passar por entre os ilustres convidados encarnados, vi inúmeros políticos, figuras conhecidas no plano físico e que chefiam altos cargos e multidões, senti outros que não estavam ali...

Wal perguntou – me mentalmente se eu desejava que ele entrasse comigo e eu tive de ser forte para dizer que aquela missão era minha e que eu precisava resolver só... Senti medo e receio, mas eu sabia que na verdade entraria só, mas que minha cavalaria de guerreiros estava a postos para me proteger.

A primeira coisa que recebi ao entrar foi os olhos vermelhos do meu Chefe, olhos que por uma vida inteira eu temi e tive pânico. Me senti assustada, mas eu havia crescido de alguma forma, eu não era mais aquela pessoa dependente, medrosa e afoita, alienada por coisas físicas, grandiosas de outras vidas... Eu chegava ali em um momento de alma mais simples, mais focada, eu sabia o que era verdade e o que era ilusão dentro do que eu sempre quis, eu tinha foco e eu queria ser livre de todos eles... Eu sabia para onde eu queria ir e nada poderia me fazer mudar de ideia.

Ele tentou me envolver nos braços, tentou me ludibriar com sussurros que antes eu não conseguia resistir, e eu senti uma tristeza enorme por um dia eu ter acreditado naquelas ilusões da carne... da sexualidade, que hoje não me tocam mais a alma cansada das ilusões...

Quando ele percebeu que não conseguiu, iniciou um processo de cobranças, culpando – me pela vida que tenho na terra, por não estar aceitando as facilidades que ele pode me dar, os luxos que tenho o direito de ter, os bens que mereço e terei sempre que disser a ele que desejo... Chorei dolorosamente ao analisar o que ele me dizia, mas chorei de felicidade por nada me desviar do caminho, nem convites interessantes, nem bens excessivos, nem luxo, nem proteção masculina que podem satisfazer meus caprichos, se assim eu desejasse. Chorei tudo que recusei, chorei a vida simples que consegui manter, chorei as armadilhas que venci e vi o quanto eu não conseguiria aceitar uma vida de luxos e caprichos que não mais me satisfazia. Chorei de orgulho da minha força, do meu foco, do meu esforço, que ele tentava manipular para me fazer sentir culpada.

Quando ele notou que não conseguia desta forma ele usou de persuasão e tocou em um ponto doloroso para mim: o homem que eu acabara de deixar no Vale, ao qual devolvera a aliança de compromisso e que convidei para ir embora daquele lugar comigo. Avisou – me que o destruiria, que ele era uma presa fácil de ser manipulada, principalmente com a bebida, e que ele não tinha a mesma proteção e foco que eu conquistara. Relatou – me as dificuldades deste homem na terra quando voltava ao corpo e tinha de viver a vida encarnado e riu... Mostrando – me que realmente ele era uma presa fácil se não decidisse evoluir pelo autoconhecimento. Isto me preocupou, mas não abalou como das outras vezes. Eu era livre e tinha convidado – o para ir embora comigo, o que ele ficou de decidir... Mas se não desejasse ir, estava livre para arcar com as suas escolhas, pois eu havia quebrado as algemas que me prendiam a ele.

Este chefe ainda tentou usar outras formas para me convencer, mudou de corpo para me agradar, mas nada ali me tocava mais...

Em uma última tentativa me disse que eu era a culpada pelo outro estar no Vale, pois viera atrás de mim para ficarmos juntos, pois gostava de mim... E eu entendi que não era verdade, as escolhas de qualquer um eram responsabilidade de seu portador, assim como as minhas eram de minha responsabilidade e de mais ninguém e eu estava ali, enfrentando escolhas antigas que não mais me faziam bem...Eu estava disposta a levar comigo quem quisesse sair dali comigo, quem não desejasse sair, estava fazendo sua escolha.

Eu o olhei e não senti nada além de um desejo enorme de sair dali sem levar nada ou ser iludida...

Desci as escadas e o povo da festa me olhava surpreso... Cruzei o salão e me atirei nos braços de Wal que me esperava ao pé da escada. Saímos por uma porta de vidro lateral e iniciamos a caminhada sobre um arco gigantesco sobre o precipício, que levava ao outro lado, paramos no meio e nos olhamos, abracei Wal em prantos e só falei que eu queria voltar para casa, para meu planeta e que nada neste mundo iria me desviar disto outra vez. Eu queria ir para casa e voltar para os braços dele, para nossa casinha, para minha mãe e minha vó que estavam lá... Tão distantes de mim... Ele me abraçou, beijou minha testa e sorriu, como se seus olhos me dissessem que eu estava no caminho de casa...

Me levou ao outro lado do Vale, onde haviam muitos adolescentes sendo desviados para o desregramento sexual e me deu o aviso: - Agora é hora de orientar teu filho...

Me mostrou uma colônia onde estes jovens trabalhavam com música para ajudar outros jovens desregrados e explicou – me que por estarem na vibração da terra, quando não estavam bem, eram pegos pelos chefes e sugados, usados, comandados, para destruir este auxílio que prestavam a outros jovens...

A carga não era fácil, a responsabilidade de arcar com estes filhos e estas visões não eram fáceis, mas eu precisava sair da minha dor e cuidar da dor do meu filho que estava sendo vampirizado... Precisava cuidar dele para ficar bem, pois do trabalho dele, dependiam muitos outros jovens, muitas outras almas...

Ainda olhei para Wal, cansada, e perguntei se devia avisar o outro, o homem que havia deixado no Vale, pensando sobre sair de lá ou não e Wal me disse que eu sabia que teria de abordar esta questão com ele, quando decidi reencontra – lo na terra, ao nascer. Eu deveria fazer minha parte e o outro que decidisse se confiava em minha orientação ou não...



Voltei mais leve, mais calma, com uma sensação mais livre, mas não menos cansada, porque agora inicia o processo de ser firme e tomar decisões com este filho e com esta outra pessoa. Orientar muitas vezes requer bater de frente e ser firme para obter o resultado positivo, e as vezes as pessoas não desejam ser orientadas e o que resta a fazer é seguir sem estas pessoas, porque cada um segue o caminho que lhe faz bem e no qual acredita...

CONTRATO SAGRADOS.
Paula Aguerre

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