A maior parte de minha vida eu a vivo entre os "mortos", isto eu não posso negar. A mediunidade chegou comigo na maternidade, quando Wal entrou e me acalmou e eu fiz disto um suporte para domar minha alma e estruturar um trabalho que me desse prazer, aventura, viagens pelo mundo de Bob e maturidade. Onde eu pudesse aprender muito, pois eu amo aprender e onde eu pudesse ensinar um pouco para quem cruza meu caminho... No fim de semana eu tinha uma aventura que há quase 10 anos eu não fazia: Ir até uma casa e ver o que estava acontecendo, pois a dona do quarto, uma linda adolescente, não conseguia dormir nele e estava com medo...
Bem, eu cheguei pronta para tudo, para enfrentar ameaças, ver vultos, calafrios, sensações estranhas e conversas mentais. Cheguei pronta para "doutrinar", encher os ouvidos dos mortos e convencê - los a parar de fazer mal para a menina e encontrar a luz. Mas, o que aconteceu me surpreendeu de uma forma linda, que me tocou e me fez crescer mais um pouco. As vezes esperamos crescer pelos golpes duros da vida, das palavras grosseiras, porém podemos ser merecedores de aprender por outros meios suaves... Como conversar com os mortos do submundo ferrenho e ser colocada no colo... Cheguei e procurei deixar meus próprios problemas de lado para ser útil, pois eu estava com um problema emocional, digamos assim, me fazendo introspectiva e me ensinando a sair do papel de vítima. Entrei no quarto da menina, tranquei a porta, sentei na cama em posição de meditação e me preparei para chamar a galera do bem e sentir o que realmente estava acontecendo. Logo a cama cedeu e um espírito com capa negra sentou na minha frente. Usava um capuz e me deixou ver a forma dele, uma caveira... Não me assustei, mas por minha mente passou como ele era feio e o quanto eu ficaria com medo se ele me abordasse quando estivesse desprotegida, saindo do meu próprio corpo na hora em que eu dormisse.
-Quer que eu assuma outra forma mais confortável para você, para podermos conversar? (Ele perguntou sereno). Antes que eu pudesse dizer que tanto fazia ele assumiu a forma de um ser de vestes brancas e rosto lindo. Sorrio para mim e disparou: - Assim está melhor?
Fiquei olhando para ele e para suas artimanhas e o admirei por estar tendo aquela conversa comigo de forma educada e serena.
- Podemos tomar a forma que quisermos...
-Por isso ensino as pessoas a sentirem vocês... A sensação nunca engana, mas a aparência sim. (Respondi tranquila).
Ele me explicou que estava ali porque a menina o contratara para no momento que saia do corpo, ser levada para o submundo para aprender algumas ferramentas e comportamentos condizentes com a vida que desejava: Dinheiro, sucesso, bens materiais e uma posição social excelente. Ele a ensinava a manter a postura do corpo e da energia, disse que era um doutrinador, um professor. A ensinava o que desejava. E que se minha preocupação e da mãe dela era que ele fazia mal a ela, que ficassemos tranquilas, seu objetivo era ensinar a menina e outros, a terem a vida que queriam. Assim como na terra haviam escolas para isto, nada mais natural que no submundo houvesse também. Perguntei o que desejava para deixá - la em paz e ele me olhou fundo nos olhos: - Apenas que ela me mande embora e encerre o contrato, não tenho tempo para gente que não sabe o que quer. Não sou um obsessor que deseja segurar sua presa, sou um professor, e quando meu trabalho acaba eu simplesmente obedeço e vou embora.
Eu o olhei e fiquei ali, domando minha mente cansada com meus próprios problemas pessoais.
Ele me encarou sereno e disparou: - E tu, onde está todo aquele orgulho e arrogância que te levaram tão longe? Tu foi muito admirada no submundo, pois sabia onde ia e o que queria... E sempre conquistou o que quis...
Aquilo foi como um tapa na dor que eu estava sentindo naquele momento. Olhei ele com calma e compaixão por mim mesma e respondi: - Consegui em outras vidas tudo de forma dolorosa e pelo caminho da raiva e da mágoa o que me custou 400 vidas tendo câncer para aplacar minha ira e minha revolta.
- Você continua bonita, mas agora é uma beleza diferente... Ainda te admiramos e sabemos que um dia, inevitavelmente, todos do submundo teremos de seguir teus passos, no caminho da verdade... Mas, há algo que tu não pode deixar para trás...
Eu o olhei curiosa: - Ter fé na tua própria companhia...
Como eu demorei a assimilar ele ainda sentado me explicou: - Tenha mais fé na tua companhia, ela vale ouro... Um ouro que tu anda procurando na companhia dos outros. A única coisa que vai te levar a algum lugar Paula, é o seu auto - amor...
Eu fiquei ali, olhando para ele, absorta em minha própria vida.
-Obrigada, eu sou grata pela tua atenção. (Foi o que senti vontade de lhe responder, porque eu começava a entender exatamente do que ele falava). Ele estava conectado com minha mente e com o problema que eu estava me debatendo.
De tudo que aprendi no caminho das obsessões, doutrinações, era me melhorar de verdade, sem máscaras para poder trabalhar no que eu faço, pois no mundo dos espíritos não existem máscaras ou pensamentos que não sejam detectados por eles. Você pode até achar que esconde algo, mas é um ledo engano da sua parte. Eles sempre sabem o que você faz e esconde, o que você sente e engana - se...
- Talvez a melhor forma de saber, seja enfrentar o medo de ficar sem. Soltar, parar de agarrar - se desesperadamente. Colocar na balança do sentimento e ver o que vale mais... Talvez o grande segredo, o passe de mágica, seja ficar sem e aprender a vivenciar isto com equilíbrio e foco, sem vitimização e mergulhos em um passado que fere e não mais te acalenta...
Ficamos ali, ambos olhando para um vazio particular, absortos em vidas opostas, mas que nos levavam até ali, naquela conversa linda e esclarecedora, vinda de um ser sem luz, que ensinava jovens a ter uma vida de sucesso passando por cima de seus sentimentos e dos sentimentos alheios... Agradeci mais uma vez e o admirei pelo tempo despendido a ficar comigo. Ali, ele envergava seu dom, o de professor e partia deixando na minha alma admiração pela sua humildade em mostrar - me que não havia só um caminho e que cada um escolhia o que desejava e que ele só estava ali porque queria me dar uma dica de qual caminho eu realmente queria. Ele só me deu a dica, fez cair minha ficha.
-Diga para a mãe da menina que não quero machucar, e que vou embora se a menina mandar - me... de verdade.
Fiquei mais um pouco ali, sentada, pensando no quanto eu era abençoada por fazer parte de dois mundos, um mais lindo que o outro e levantei, calcei meu tênis, coloquei aquela conversa no meu coração e sai, para acalmar a mãe e a menina e para refazer meus próprios passos.
Gratidão Universo.
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