- Tu tem que ir até Capela e te libertar de mim...
- Como assim, quer dizer que tu vai me deixar?
- Lá tu vai entender porque estou insistindo.
- Não quero ir... Dói voltar lá...
(Esta conversa foi no dia anterior).
No outro dia ao cair da tardinha: - Te organiza que vamos para Capela.
Olhei para aquele homem lindo e gigantesco caminhando atrás de mim por dentro de casa e fiz que não entendi.
(De noite, eu indo para o banho...)
- Tu tem que me libertar para ser feliz... E para isto vai ter que me deixar partir...
(Entrei no banho enquanto Wal estava no box comigo e fiz alongamento, lavei onde já havia lavado, deixei a mente vagar por sei lá onde...).
(Noite alta e eu no facebook).
- Vamos Paula, para que tua programação aqui na terra se cumpra tu precisa enfrentar e desfazer o contrato comigo.
Levantei os olhos e analisei aquele homem de turbante branco no pé da cama, mais de 2 metros de altura, moreno, sarado, lindooooo e continuei digitando com uma amiga íntima no face).
- Depois eu vou... (Minha cabeça rodava rebelde e um certo mal estar começava a se insinuar em minha cabeça, minhas mãos estavam nervosas e eu já sabia que tinha que me decidir.)
-Vou depois, daqui a pouco...
Wal continuou firme no lado da cama, com aquela paciência que só Wal tem com Paula. E eu continuei digitando e falando com a amiga querida. Até que minha amiga diz o seguinte: - Amiga, se Wal diz que é pra ti ir, ele é o cara, ele manja dos paranauê, então quer dizer que vai te fazer bem ir lá e desfazer este Contrato!
(Eu sabia que ela tinha toda a razão, que Wal era o cara e eu a rebelde, mas meu coração sabia o que eu ia encontrar lá, eu sabia que ele jamais me faria fazer algo que não fosse me fazer muito bem, mas eu não queria sentir aquele desespero mais uma vez na minha vida, porque fora aquele desespero que me arrancara da minha casa, do meu planeta e me arremessara ali na terra e em tantos outros planetas de exílio e dor moral.)
- Eu sei amiguinha, mas fala mais, vamos conversar mais um pouco...
Wal ao lado da cama aguardou mais uns 40 minutos eu acho e a coisa ficou tensa:
Ergui os olhos outra vez e ele já tinha aberto um portal violeta, com nuances brancas e brilhosas... Fiz que não vi...
E continuei teclando por teclar e com a cabeça latejando a mil...
- Entra no portal. (Me diz Wal com aquela voz suave, porém já firme).
Olhei para o portal, louca de curiosa, mas cheia de pânico...
- Não querooooooo entrar, não querooooo ir lááááá´!! (Gritei mentalmente, mas com respeito, na verdade eu estava era gritando comigo e com o lado racional que sabia que eu tinha de ir).
Começou a me dar uma vontade enorme de chorar, uma sensação de dor, perda e medo de sentir tudo outra vez...
- Entra no portal... (E me estendeu a mão).
Segurei a mão dele e deixei minha alma, minha consciência sair daquele corpo físico que estava sentado na cama, no escuro e me deixei conduzir por ele, pela segurança das mãos que me ajudam a trabalhar e seguir minha estrada.
Passei por um portal de luz forte e barulhenta e quando dei por mim, meus pés tocavam o saudoso chão de Capela, meu planeta amado.
Desci no exato momento ou lembrança em que eu estava casando, em uma cerimônia simples, de familiares e amigos adorados ao meu coração... Podia sentir os olhos de meus pais e de minha vó amada sobre mim, brilhando de felicidade com a enorme felicidade que fazia minha alma dançar nos braços de meu marido. Eu me vi dançando e rindo entregue aos braços daquele homem como jamais me vi fazer em qualquer outra vida, em quaisquer outros braços... Nós dois riamos de felicidade enquanto nossa festa de casamento seguia pela noite estrelada.
Todos nos olhavam com adoração, pois sabiam do quanto nosso amor era... Amor...
E eu estava segura pelos braços do homem que me adorava e me protegia, com quem eu havia crescido e amado no primeiro instante... Haviamos sido um do outro pela eternidade das vidas sucessivas e ali, nos reencontravamos mais uma vez para viver o amor de almas gêmeas. Habitava tanta felicidade em nossas almas que o mundo não existia, as vozes e a música... O que habitava ali era o silêncio das almas que se completam e vivem uma para a outra...
Eu estava com os pés descalços e ele também, as alianças reluziam em nossas mãos seguras uma na outra e riamos entre um beijo e outro...
Todos já haviam ido embora e nós ficamos, pois ali era o lar que havíamos construído, que havíamos escolhido para viver... A lua e as estrelas embalavam nossa felicidade, a conexão que eu jamais poderia descrever além de emoção que encanta e faz chorar de felicidade... Era assim que sempre me senti nos braços daquele homem enorme e de olhos profundamente apaixonados por mim. Até ali, nunca havíamos tido outra alma em nossas vidas, renascíamos e nos buscava – mos para viver o amor...
Aquela cena me trouxe a dor de estar exilada na terra e longe dos braços dele... Aquele lugar me fazia lembrar do amor verdadeiro e da entrega sem medos...
Estar ali era muito difícil para mim e para ele, pois ainda sofríamos a separação que eu havia me imposto...
A noite serena e o vento delicado fazia com que todas as lembranças que sufoquei para conseguir viver na terra, longe dele, viessem a tona e meus olhos presenciaram o momento em que ela, eu, dançando nos braços dele, cheia de amor e inocência, jurou amor eterno e que nenhum homem em toda sua existência conseguiria tocar sua a alma como ele fazia. Ali, sob o amor dele eu prometi fidelidade, aonde quer que eu fosse, com quem estivesse, eu seria somente dele, pois era o que me fazia completa e viva.
Olhei Wal ali comigo e entendi o que eu havia feito naquela vida, havia sacramentado junto com aquele casamento de almas, um contrato de nunca esquece- lo, de nunca me entregar ao amor, se este amor não estivesse nos braços dele...
Entrei dentro da casa e as lembranças começaram a reviver em minha alma como se eu fizesse parte de um mundo que nunca havia cessado, como se ao andar dentro daquela casa eu cruzasse com ela, com aquele homem que jurei amor e fidelidade e com a vida que eles tinham todos os dias. Olhei para um aparador e os porta retratos, com uma tecnologia que ainda não vi na terra, exibiam imagens captadas no momento do casamento, quando eu os toquei, o casal no porta retratos começou a se mover, como se eu assistisse a uma gravação daquele dia, mas as ondas que emitiam me fizeram sentir a emoção captada no momento capturado... O que ela e ele sentiam ao serem fotografados, dançando e comemorando a união.
Eu chorei, chorei a saudade, chorei a dor de não vibrar mais na frequência daquele lar, o qual nunca mais tive em outros planetas que tive de morar... Chorei o cão que caminhava por dentro de casa e encantava – se com a felicidade que o casal desprendia...
E quando meus olhos pousaram sobre o retrato do casal, com uma criança, um lindo menino de dois anos no colo, eu desabei toda dor, todo o esquecimento que programei para conseguir viver sem eles...
Wal se aproximou de mim e segurou meu rosto, sustentou meu desespero e me beijou os cabelos... Wal chorou com meu rosto entre as mãos, e foi a primeira vez que vi dor naquela alma, que vi aqueles olhos adorados ao meu coração chorarem.
- Te liberta de mim... (Ele me pediu entre a dor e a razão). – Somente assim tu poderá ter paz na terra, somente assim tu poderá reencontrar outra alma adorada ao teu coração e viver sobre a terra o amor que um dia tu viveu aqui, nos meus braços!
Choramos juntos, choramos a separação, as mortes dos corpos que ele teve e eu não suportei... Choramos por eu estar presa na terra e ele ali, ainda vivendo no nosso lar e me resgatando pelos lugares que habitei, para que um dia eu evoluísse e pudesse vibrar na mesma frequência dele, do nosso lar, do nosso planeta, para voltar aos seus braços.
-Nunca vamos estar separados, eu nunca te deixei, nunca te abandonei. Meu amor sempre achava uma forma de te encontrar, fosse em qualquer lugar tenebroso ou em serena evolução humana.
Enquanto isto, eu senti o cão materializar – se e ficar de pé, ao lado do casal, como se tentasse me dizer que também não havia me esquecido.
As lágrimas de dor que deslizavam pelas faces de Wal, misturavam – se com as minhas e eu só queria que aquela dor que eu nunca esqueci me deixasse viver em paz. Eu sabia que ele tinha razão, eu sabia das sabotagens que eu criei para todos os relacionamentos amorosos que haviam cruzado minha vida em todos aqueles séculos que estávamos separados... Eu sabia que se não libertasse aquele lar, eu nunca conseguiria ter um lar... Eu chorei por que também estava cansada de peregrinar por mundos sem fim, resgatando – me, saldando Karmas, solitária... Autossabotando minhas passagens pelos orbes que precisava enfrentar.
Eu estava cansada de carregar aquelas vidas cheias de amor e paz ao lado dele, todas as que havíamos tido, pois eram lindas demais e me causavam uma ferida gigantesca na alma. Ver ele ali, ou caminhando comigo sobre a terra ou por outros planetas inferiores de regeneração me causava saudade, dor e ranger de dentes, pois ele evoluíra muito além de mim, enquanto eu engatinhava resgatando minha rebeldia. Saber que eu não poderia ficar ali, no meu lar, na segurança do único homem que amei e do único lar de verdade que tive destruía minhas forças.
Foi quando ele olhou nos meus olhos e desabafou chorando, a voz masculina embargada de emoção mexeu com minha alma e eu foquei toda minha atenção nele, todo o desespero acalmou, porque eu nunca havia presenciado o lado homem, masculino de Wal até aquele momento, apenas seu lado Anjo da Paula, e então firmemente, porém suave, ele me disse:- Tu tem o direito de ser feliz, tu tem o direito de ter um lar e um amor enquanto eu não posso estar contigo, enquanto tu não pode voltar para casa comigo. Tu tem o direito de te sentir segura dentro de um lar e dentro de um abraço de um companheiro de verdade... Deixa – me aqui e aceita a felicidade que outro homem poderá te dar e que já está programada. Nós dois nunca deixaremos de ser o amor um do outro, mas eu sinto a tua dor e a tua dor não pode continuar.
- Eu estarei contigo e esta alma que está pronta para te reencontrar é um pedaço de nossa mônada, é uma alma gêmea também, com a qual tu será tão feliz quanto foi comigo.
Não existe apenas um único amor de alma, somos muitos e sabemos disto quando nos reencontramos, ele já viveu contigo em outras vidas e vocês são muito feliz juntos... Deixa ele te encontrar... A tua felicidade me faz feliz... E há muitos séculos, desde que saiu daqui, tu nunca mais te permitiu ser feliz e sorrir como sorria em meus braços.
Narrar ainda me faz chorar, ainda me abala, mas eu sei que agora, aquele contrato pode ir embora, aquela promessa que fiz a mim mesma, pode ser vista de outra forma e não mais como uma fidelidade que me fazia crer que se eu encontrasse outra alma que me cativasse realmente, eu estaria traindo o que sentíamos um pelo outro...
Choramos abraçados, relembrei a morte dele ali naquele lugar e o meu desespero, a minha revolta por não saber das vidas sucessivas, chorei a enorme rebeldia que me levou a usar minha mente e minha profissão ali naquele lugar para criar placas mãe e implanta – las na mente para aplacar a dor da perda, de uma forma que tudo virou uma avalanche de esquecimento e se dizimou por Capela como um surto, como uma praga que corrompeu sentimentos, almas em evolução, tornando os implantados seres frios e egoístas, incapazes de amar, dar amor ou entender as perdas... Voltados para uma tecnologia que por ignorância e medo da dor, nos tornou desumanos e vazios...
Ele me segurou pela mão e me levou até a árvore sob a qual todas as noites nós dançamos sob o luar e os ventos suaves do precipício ao lado... Sob a qual fizemos juras e promessas de felicidade, e sob a qual fomos gratos por fazer parte um do outro... Sentamos na beirada, como fazíamos sempre e abraçados sentimos outra vez, depois de tantos séculos, o prazer de ser apenas duas almas que se buscavam pela eternidade a fora... Fechamos os olhos e deixamos o mundo lá fora enquanto sentíamos o contato um do outro, o amor, a paz e o cansaço que eu sentia com tantas emoções e recordações.
- Está cansada, isto é normal, a frequência aqui é muito diferente e as recordações exigiram muito da tua consciência cósmica.
Eu continuei ali sentada, encostada nos braços dele, sem pressa, só deixando que minha alma aproveitasse todos aqueles momentos antes de ter de deixar tudo e ir embora para a terra.
Estar nos braços de um amor de alma é algo que eu jamais saberia explicar, o que eu sentia ali foi o que senti em todos os momentos em que Wal esteve ao meu lado, mesmo tão mais evoluído do que eu... Eu sentia paz, uma paz enorme, um amor tão intenso e calmo, que eu poderia deixa – lo livre para sempre, poderia viver sem ele, como vinha vivendo e continuaria sendo feliz por saber que ele era um pedaço de mim, da minha alma. Eu sentia emoção, uma intensidade, uma certeza absoluta que por mais que eu tivesse de viver sem ele, eu ainda seria feliz, pois nossas vidas haviam surgido da mesma essência e o criador havia tido a sensibilidade de criar a Paula e o Wal... e os tinha feito se encontrar um dia... Wal era um pedaço da minha existência e seu amor tentava me explicar que eu só poderia voltar para casa, para os braços dele, quando me permitisse ter tudo o que merecia, ter tudo o que era meu por direito. Aquela alma evoluída e linda, em meus braços, queria me mostrar que havia me buscado, me resgatado, me curado e cuidado para que eu entendesse que não precisava sentir dor, sentir solidão. E em sua imensurável luz, em sua linda evolução ele tinha o respeito e o amor de me ensinar que haviam mais almas com as quais eu sentiria o mesmo que sentira nos braços, na vida dele.
Nós dois havíamos serenado, apenas sentíamos a alma um do outro, em uníssono, sem medo, sem dor, sem posse... Há muito eu sabia quem era Wal, quem fora Wal, e há muito eu já me preparava para aceitar sem rebeldia a ausência física dele... Uma ausência que ainda iria durar longos séculos, mas que só o fato de saber que ele existia já era suficiente para a minha alma descansar em paz...
Eu queria libertar ele, eu sentia a necessidade de me libertar e ser feliz... Por que ele sempre estaria comigo, sempre... Olhei para minha mão esquerda e nela havia uma linda aliança clara, de pedras que só existem em Capela e a removi, estendi e depositei na palma da mão de Wal... Quando ele estendeu – a para pegar eu vi com todo amor de meu coração que ele ainda usava a aliança de nosso casamento, ele ainda carregava ela com todo o amor de sua alma, mais sereno do que eu, pois ele entendia as supostas separações... E os reencontros... Ele fechou a grande mão e a guardou com carinho...
- Ela vai estar comigo, te esperando... A felicidade de viver o amor só está esperando a tua decisão consciente...
Eu sorri e olhei o vale lá embaixo, sereno nas noites enluaradas da nossa varanda...
Dançamos sob estrelas e o céu e rimos como antigamente... Eu sentia a felicidade dele por eu desejar aceitar minha própria felicidade...
- Sempre seremos um do outro... Sempre seremos almas que se buscam... (Ele sussurrou com o rosto em meus cabelos).
Rodopiei dançando, em seus braços e aceitei aquele amor mais uma vez, aquela certeza de que eu tinha que ser feliz, até que um dia a minha felicidade fosse tão intensa e verdadeira, que eu estaria bem o suficiente para voltar para casa...
Deitamos sob a frondosa árvore e a grama rasteira e olhamos o céu... Como se novas promessas de liberdade, maturidade estivessem sendo gravadas em nossas almas, tendo o céu de Capela e as estrelas por testemunha.
- Tu pode voltar aqui sempre que quiser, já tens este mérito e eu estarei sempre aqui a te esperar, porque tu é meu amor... Meu grande amor... Podemos estar juntos na terra ou em qualquer lugar, tua busca e centramento nos permite isto, como não nos permitia antes... Somos abençoados por saber disto e tua sintonia estar perfeita para chegar até aqui...
Eu escutei aquela voz que sempre me emocionou, cheia de felicidade e adormeci nos braços dele... Sem me importar com mais nada... Por que eu já tinha tudo e estava no caminho...
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