Voltando atrás, nas decisões de um passado distante...
Regressão:
...Vivo nas montanhas, a vida aqui é solitária e reclusa, pois a cidade mais próxima fica a quilômetros de distancia. Moro no lindo topo de uma montanha coberta da mais branca e suave neve. Tenho uma estação de esqui ali, mas apenas administro, pois tenho quem faça o restante, como funcionários. Minha vida é escrever, sou escritor e amo o que faço, de todo meu coração. Passo minha vida neste estado de espírito, como se fosse o ar que respiro, como se em cada momento em que lanço um novo livro eu renascesse dentro de mim mesmo.
Sou um homem, minha estatura é muito alta e meu corpo atlético. Sou caucasiano e tenho longos cabelos lisos e castanhos, que mantenho soltos. Amo os ventos das montanhas e a sensação dos fios livres a esvoaçar. Tenho uma gigantesca casa ali, com salões cobertos de lareiras e aquecedores, tudo muito luxuoso, mas a o mesmo tempo rústico e simples. Os visitantes adoram o lugar e toda temporada eles aportam por ali, atrás de esportes radicais, esqui e paz.
Tenho dinheiro suficiente para manter tudo que desejo, meus livros vendem muito bem e a vida para mim, tornou – se um eterno retirar – se para dentro de mim mesmo e viajar nas minhas páginas... Apesar do amor pelo que faço, há algum tempo venho sentindo um grande vazio existencial, como se faltasse algo na minha vida, nos meus livros, como se eu precisasse de algo novo, de histórias reais que prendessem minha alma e a alma dos meus leitores.
E eu enviei aquele comando para o universo, pedi que algo novo acontecesse e que eu pudesse viajar dentro de um livro interessante, vivaz, com novas aventuras, porém verdadeiras.
...Um homem chegou à montanha, conhece minha fama de escritor, sabe quem sou e veio me fazer uma proposta. Quer sociedade ali no lugar, para encontros de um grande grupo de seguidores de uma seita, a qual estimula nos participantes, adeptos aos rituais, o envolvimento com pactos, contratos com o mundo espiritual. Explica – me que tudo que obteve até aquele momento ele deve ao conhecimento e inclusão a esta seita. Diz que sua história de vida mudou desde o momento em que ela cruzou seu caminho e que sua insatisfação foi embora no momento em que aceitou vivenciar aquela filosofia de vida.
Me sinto impelido a conhecer aqueles que fazem parte do grupo, que vivem coisas maravilhosas e que não mais sentem aquele vazio existencial que eu me debato para escapar todos os dias. Sinto como se o universo generoso até aquele momento comigo, houvesse me trazido mais um presente e minha curiosidade nata de escritor grita por novidades, emoção, mundos ainda não desbravados.
Com o tempo eu fechei a estação para turistas e visitantes locais e a consagrei somente para nossa seita e nossos encontros frequentes, pois sempre havia centenas de pessoas em busca daquele mundo novo e próspero que envolvia os pactos e rituais mentais.
A vida se tornou mais rica, cativante e emocionante aos meus olhos e sentidos, pois no contato com todo aquele mundo extrafísico, eu descobri em minha alma um poder nunca antes desenvolvido, a minha mediunidade, a qual me mostrava detalhes do que ocorria em nossos encontros. Eu fiquei fascinado por aqueles seres que vinham nos buscar e que íamos ao encontro em outros planos mentais de nossa consciência e existência. Nossos corpos ficavam ali na grande sala aquecida e aconchegante de minha estação colônia, mas nossas almas, nossa consciência viajava a lugares que eu jamais havia sonhado existire, eu presenciava contratos jamais mensurados e quando abria os olhos no mundo físico, eu via serem cumpridos os contratos, pactos, promessas e aqueles humanos ganharem ainda mais status, riqueza, relacionamentos, bens materiais e o que desejassem. Eu mesmo, ao dedicar meu tempo a narrar tudo aquilo em livros, encantei milhares, vendi milhões e fiquei ainda mais rico do que já era, sem ter o que fazer com aquele dinheiro, pois meu grande amor e paixão eram minhas mãos, minha mente e meu dom de narrar com precisão aquilo que eu sentia na minha alma.
Os encontros eram secretos e abertos somente para aqueles de confiança e que mostravam realmente desejar a inclusão nos grupos que se formavam. Eram pessoas ricas, poderosas e humildes também, que vinham aprender o segredo do sucesso, da fartura e da felicidade. Era uma vida envolvente, experiências cativantes e o contato com aqueles seres de outros planos nos faziam reféns de nossa busca por cada vez mais...
A presença daqueles chefes espirituais era um pouco assustadora, mas assim como os respeitávamos e acionávamos contratos com estes, eles também se mantinham respeitosos conosco, cada qual cumprindo seu papel na contratação.
Eu assumi com o grande Senhor dos Contratos, o grande regente daquela organização, a tarefa de dedicar minhas mãos, meu dom, minha mente a escrever nos meus livros o resultado maravilhoso que aqueles pactos traziam para a vida daquelas pessoas. Assumi por amor espalhar, disseminar a narrativa emocionante e real daquela vida de sonhos que se realizavam, dos amores que aconteciam, dos objetivos que se concretizavam. E com esta dedicação meus livros venderam como nunca, cada lançamento trazia milhares de adeptos que desejavam vivenciar aquela vida.
Passei mais de 20 anos escrevendo com afinco, vendo todos os dias relatos dos que conquistavam, ao entrar na seita, seus sonhos, seus objetivos, de uma forma que antes nunca surtira o efeito desejado.
Eu sentia o prazer na alma de sentar ali, fechar meus olhos físicos e ir com aquela pessoa até o submundo e presenciar seu contrato, suas promessas e a colaboração daqueles chefes para que tudo saísse a contento na terra. Eu viajei por mentes, mundos, consciências externas e vivi o que ninguém jamais viveu até ali, como se um poder maior me desse a chance de ter aquele dom e poder usa – lo para fazer o que eu amava, narrar e transformar em livros, em asas, para que estas alçassem voo e aterrizassem nas mãos e no mundo daqueles que desejavam aquele mundo de contratos e sucesso.
Eu amava mais do que tudo poder mostrar que tudo aquilo era real e que haviam resultados físicos para comprovar...
Dentro daquele mundo eu casei com uma mulher que seguia os preceitos daquela filosofia de vida, fomos muito felizes juntos e nos respeitamos até o momento final, lado a lado trabalhando para disseminar aquela vida que nos dava tudo que desejávamos e que nos arrancara do vazio existencial.
Convivi por longas décadas com meu sócio, o qual também tinha uma vida de sonhos e disseminava aquele trabalho. Fora uma união de sucesso e amizade entre nós três.
Mas ao longo dos anos eu comecei a acordar com resquícios de sonhos na minha mente... De um homem que conversava comigo durante o sono físico e que tentava me dizer algo, que ao acordar, eu não lembrava. Eu havia, em um contrato, dado permissão para que um véu de energia me protegesse de ataques que tentassem me desviar daquela missão que era divulgar aquela filosofia de vida, o qual não me deixava relembrar o que era conversado com aquele homem de branco que me abordava paciencioso todas as noites...
Por longas décadas eu vivi daquele momento de entregar – me a minha mesa de trabalho e voar além das asas da imaginação, indo ao encontro do grande senhor dos contratos e ouvindo – o me orientar para que pudesse registar nos livros seus ensinamentos. Mas aquele homem de branco não saíra mais dos meus pensamentos...
Por longas décadas ele tentara me orientar que eu estava em um rumo desconhecido e perigoso... Tentara me mostrar que os contratos iam além do que víamos e que toda aquela vida de sonhos era cobrada mais cedo ou mais tarde.
Presenciamos muitos adeptos relatarem o aparecimento do tal vazio existencial outra vez, e este cada vez mais forte e aterrador, que os contratos não conseguiam sanar, eu mesmo me sentia assim em alguns momentos e então recontratávamos mais coisas, mais subterfúgios para não sentir aquele monstro...
Muitos suicidaram – se, perderam a fé nos contratos, abandonaram a seita e sumiram sem deixar rastros, acabávamos sabendo depois de seus suicídios... O que começou a me intrigar e aumentar o vazio...
Ali na montanha havia um precipício que não conseguíamos divisar o fim e onde, em momentos de sono físico, nossas almas eram levadas para assistir a outras almas, dos que queriam desvincular – se, serem ritualizadas e jogadas naquele abismo... Nos faziam registrar a ameaça e nos faziam registra – la no inconsciente para não os desobedecer, com medo de ter o mesmo fim... E quando acordávamos, esquecíamos a ameaça, mas guardávamos o medo, o pavor de passar por aquilo...
Eu perdi para a morte a esposa e o sócio, com pouco tempo de diferença, o que me deixou completamente só naquele lugar. O que eu sentia, o que eu via não era mais o que presenciara no começo. Por mais que tentassem me coagir durante o sono, os resultados físicos que eu observava nos participantes não era a vida de sonhos que haviam nos prometido. Todos estavam tendo desfechos estranhos... E o prazer de narrar do começo começou a se confundir com o vazio e insatisfação de sempre acordar com a lembrança daquele homem de branco que tentava me mostrar outro caminho e eu lhe mostrava que nossas escolhas eram corretas, pois não comprometíamos ninguém, somente a nós mesmos naqueles contratos e que não havia mal nenhum em desejar tudo de que éramos merecedores.
...Eu estou sentado na beira do precipício, faz alguns anos que parei de escrever com tanta intensidade e deixei de receber adeptos ali na estação, a vida sem minha esposa e sem meu sócio não tem o mesmo valor, a mesma felicidade de antes.
Estou com mais de 50 anos e sinto o vento gélido açoitar meu rosto, minha cabeça e meu corpo. Estou bastante fora da realidade, cobram – me um pacto que não sinto mais o prazer de realizar, que é escrever para cativar mais adépitos. Simplesmente ignoro os chamados, as descidas e durante o sono eu fico ali, ouvindo o homem de branco, mas ainda discordo de muito que ele fala – me.
Eu vou me matar, eu já decidi, quero jogar – me naquele buraco negro e cair para sempre, em um vazio que se apaga com a queda...
Cortei meus dois pulsos, profundamente e sei que tenho pouco tempo para realizar com sucesso aquele ato, pois não desejo continuar vivo. Então, com precisão e força, eu passo a grande faca afiada no meu pescoço e lanço meu corpo para a frente, não sem antes sentir como se alguém chutasse minhas costas para que eu caísse de uma vez. Então eu sinto o vácuo do abismo, o frio gélido das montanhas e a dor momentânea dos ferimentos...
Mas nada se apagou, nada sumiu ou eu deixei de existir como castigo, que era o que nos prometiam se desobedecêssemos...
Eu acordei no chão do abismo, ainda o mesmo homem, ainda o mesmo escritor, ainda o mesmo sonhador... Mas ao meu redor estavam outras pessoas, as que sumiam dos grupos, as que sabíamos ter morrido pelo suicídio... Todos andavam por ali, naquela gruta ou caverna, eu não sabia definir aquele isolamento, como se estivessem alienados, vazios de si mesmos, a esmo... E eu fazia o que sabia fazer de melhor, eu observava e tentava concatenar, entender o que estava acontecendo comigo, com todos... Volta e meia um gigantesco trem cruzava o meio da caverna transportando seres alienados, aos gritos, olhos negros profundos, a loucura a enraizar – se pela alma sem fim... E eu recuava e sentia medo de que me fizessem entrar naquele trem de almas do purgatório, que eram remanejadas para outros lugares... Então meus olhos focavam uma jovem moça que sempre estivera por ali, andando por entre aquelas almas desnorteadas, usando um longo vestido e que acudia a todos que lhe solicitassem cuidados. Ela era a personificação da minha segurança, da minha paz e da minha estabilidade mental naquele lugar... Era como uma irmã mais velha, mais madura, uma enfermeira sem uniforme... Só o fato de olhar para ela, me dava a calma que eu lutava para manter, acalmar a culpa que eu carregava na minha ignorância... Por muitos anos eu a observei sem coragem de chama – la e ela nunca me abordou... Continuava seu trabalho de curar, acalmar e estancar feridas...
Nos momentos de loucura em que me via açoitado por cobranças mentais que invadiam aquele lugar e que provinham do Senhor dos Contratos, eu fugia para minha casa no topo da montanha e entrava no meu amado refúgio de escritor e tentava escrever para fugir da opressão, mas ele não me deixava, pois eu tinha um pacto para escrever somente para ele e como ele desejava. Então eu voltava para a caverna no precipício e ficava analisando o desfecho de toda aquela gente e o desfecho de seus contratos...
E quando não suportei mais a inatividade, a culpa e a dor por não conseguir escrever eu olhei para aquela moça e fiz questão de ser notado por ela, e então ela veio ao meu encontro com um sorriso.
- Precisa de algo? (Perguntou – me gentil.)
- Você poderia me dar papel e caneta? (Foi minha dor humilde que falou por mim naquele momento, eu não queria mais nada, nem cura, nem cicatrizar minhas feridas ou usar o tempo dela, eu só queria meus grandes amores, papel, caneta e a liberdade de escrever, nem que fosse daquele lugar.)
Mais que depressa ela voltou com blocos de papel e canetas e me deixou só... E dali em diante eu fiquei sentado naquele canto sozinho, sem interferir em nada e sem querer entender o que quer que fosse, escutei minha alma e minha intuição e fiz naturalmente o que me pediam: narrei cada história que eu presenciava ali dentro, cada rosto transfigurado que chegava e o assombro daquele trem de almas do purgatório que fazia escala ali... E dei graças a Deus por ter aquele canto, escorado na rocha, sentado no chão, com meus blocos, minha caneta e minha liberdade de escrever sem interrupções. Narrei cada desastre, cada desfecho das almas que viam que os pactos e seitas não eram o que prometiam e o que mostravam... Cada tragédia que ali dentro repercutia e contei a verdade da alma e não mais dos olhos ignorantes e egóicos...
A moça se aproximou e apontou para os amontoados de blocos que haviam ao meu lado, pilhas e pilhas deles...
- Você escreveu muito todo este tempo...
Eu olhei as pilhas de blocos, meus tesouros naquele lugar e sorri com paz na alma.
- Sim...
Eu me sentia em paz, porque contava a real faceta de uma filosofia de vida que destruíra todos que passavam por ali, como se isto fosse uma das muitas chaves que soltariam minha algemas...
- Venha comigo, algumas pessoas querem te ver.
Olhei para os blocos e ela me acalmou: - Vamos guardar para você em local seguro, eles serão devolvidos assim que vier comigo.
Vi muitos enfermeiros recolhendo meus blocos, ali havia muitas vidas narradas e minha própria.
- Há mais de 20 anos tu está aí, escrevendo... (Ela me disse com suavidade.)
Eu me surpreendi e a segui por um corredor de pedras que transformou – se em um corredor iluminado e cheio de portas. Ela abriu uma delas e deu – me passagem.
Seres esperavam – me de pé e fui recebido com simplicidade.
- Somos o conselho kármico e estamos aqui para organizar seu renascimento. Você irá renascer e levará com você tudo que escreveu, a experiência e o dom da mediunidade, mas desta vez, irá narrar o que realmente acontece nos contratos, nos pactos, nas seitas... O lado obscuro que os iniciados não são informados. E teu resgate missão será resgatar o sócio e a esposa e todos aqueles que perderam – se ignorantemente nesta senda e que precisam desfazer os contratos assumidos em outras vidas.
Teu dom servirá para alertar e resgatar com o Início dos Contratos Sagrados. Deste trabalho acontecerá o nascimento de livros que contarão o que ocorre no submundo e o que acontece de maravilhoso com quem decide enfrentar este lado e desvincular – se.
Ali havia homens e mulheres em espírito, muito sérios, firmes, porém amorosos, sabiam o que eu tinha de fazer e estavam ali para me informar.
- Se não desejas esta missão de resgate, o deixaremos livre, porém ainda ligado os Senhor dos Contratos Deturpados e teu dom de escrever e presenciar o outro mundo, sob a égide das mãos dele.
Senti – me muito mal naquele momento, como se não fosse merecedor de renascer... E passei mal. Disseram – me para deixar sair de dentro de mim o monstro das limitações que assumi ao contratar servidão, pois tentariam me fazer desistir de escrever sobre o bem de descontratar... E eu permiti que aquele mal estar me açoitasse e partisse naquele momento... Quando ergui meus olhos, na roda de seres, estava o homem de branco que me visitava quando estava vivo na terra. Ele abriu um enorme sorriso e seus olhos brilharam quando o identifiquei. Senti vergonha de minha teimosia em relutar com ele e tentar convence – lo de que eu estava com a razão... Mas ele veio ao meu encontro e me abraçou em sua imensidão... E eu me senti nos braços de um pai, amado e seguro de tudo que poderia me fazer mal...
Era Wal que me abraçava e me tirou daquele lugar, levando – me para minha consciência como Paula. Abaixou – se colocando os joelhos no chão e eu também fiz o mesmo, para ficar mais condizente com a enorme estatura de Wal... Ele me abraçou e beijou minha testa, me falou do meu poder, do que eu podia com minha mente e com meu dom de escrever e ministrar os contratos...
Me falou dos futuros Ministrantes dos Contratos e da minha missão com esta ferramenta... E eu fiquei abraçada a ele, sentido sua força, seu amor por mim e a fé que ele, uma alma evoluída, colocava em minha alma a engatinhar pela escuridão de minha inconsciência...
E ali eu soube que nada era um acaso do destino, as almas que vinham não eram coincidência... O aviso do livro não era uma ilusão...
Os ventos das programações começavam a soprar e precisávamos trabalhar para a tempo, desenvolver um trabalho que irá me acompanhar em muitas outras vidas que terei...
...Vivo nas montanhas, a vida aqui é solitária e reclusa, pois a cidade mais próxima fica a quilômetros de distancia. Moro no lindo topo de uma montanha coberta da mais branca e suave neve. Tenho uma estação de esqui ali, mas apenas administro, pois tenho quem faça o restante, como funcionários. Minha vida é escrever, sou escritor e amo o que faço, de todo meu coração. Passo minha vida neste estado de espírito, como se fosse o ar que respiro, como se em cada momento em que lanço um novo livro eu renascesse dentro de mim mesmo.
Sou um homem, minha estatura é muito alta e meu corpo atlético. Sou caucasiano e tenho longos cabelos lisos e castanhos, que mantenho soltos. Amo os ventos das montanhas e a sensação dos fios livres a esvoaçar. Tenho uma gigantesca casa ali, com salões cobertos de lareiras e aquecedores, tudo muito luxuoso, mas a o mesmo tempo rústico e simples. Os visitantes adoram o lugar e toda temporada eles aportam por ali, atrás de esportes radicais, esqui e paz.
Tenho dinheiro suficiente para manter tudo que desejo, meus livros vendem muito bem e a vida para mim, tornou – se um eterno retirar – se para dentro de mim mesmo e viajar nas minhas páginas... Apesar do amor pelo que faço, há algum tempo venho sentindo um grande vazio existencial, como se faltasse algo na minha vida, nos meus livros, como se eu precisasse de algo novo, de histórias reais que prendessem minha alma e a alma dos meus leitores.
E eu enviei aquele comando para o universo, pedi que algo novo acontecesse e que eu pudesse viajar dentro de um livro interessante, vivaz, com novas aventuras, porém verdadeiras.
...Um homem chegou à montanha, conhece minha fama de escritor, sabe quem sou e veio me fazer uma proposta. Quer sociedade ali no lugar, para encontros de um grande grupo de seguidores de uma seita, a qual estimula nos participantes, adeptos aos rituais, o envolvimento com pactos, contratos com o mundo espiritual. Explica – me que tudo que obteve até aquele momento ele deve ao conhecimento e inclusão a esta seita. Diz que sua história de vida mudou desde o momento em que ela cruzou seu caminho e que sua insatisfação foi embora no momento em que aceitou vivenciar aquela filosofia de vida.
Me sinto impelido a conhecer aqueles que fazem parte do grupo, que vivem coisas maravilhosas e que não mais sentem aquele vazio existencial que eu me debato para escapar todos os dias. Sinto como se o universo generoso até aquele momento comigo, houvesse me trazido mais um presente e minha curiosidade nata de escritor grita por novidades, emoção, mundos ainda não desbravados.
Com o tempo eu fechei a estação para turistas e visitantes locais e a consagrei somente para nossa seita e nossos encontros frequentes, pois sempre havia centenas de pessoas em busca daquele mundo novo e próspero que envolvia os pactos e rituais mentais.
A vida se tornou mais rica, cativante e emocionante aos meus olhos e sentidos, pois no contato com todo aquele mundo extrafísico, eu descobri em minha alma um poder nunca antes desenvolvido, a minha mediunidade, a qual me mostrava detalhes do que ocorria em nossos encontros. Eu fiquei fascinado por aqueles seres que vinham nos buscar e que íamos ao encontro em outros planos mentais de nossa consciência e existência. Nossos corpos ficavam ali na grande sala aquecida e aconchegante de minha estação colônia, mas nossas almas, nossa consciência viajava a lugares que eu jamais havia sonhado existire, eu presenciava contratos jamais mensurados e quando abria os olhos no mundo físico, eu via serem cumpridos os contratos, pactos, promessas e aqueles humanos ganharem ainda mais status, riqueza, relacionamentos, bens materiais e o que desejassem. Eu mesmo, ao dedicar meu tempo a narrar tudo aquilo em livros, encantei milhares, vendi milhões e fiquei ainda mais rico do que já era, sem ter o que fazer com aquele dinheiro, pois meu grande amor e paixão eram minhas mãos, minha mente e meu dom de narrar com precisão aquilo que eu sentia na minha alma.
Os encontros eram secretos e abertos somente para aqueles de confiança e que mostravam realmente desejar a inclusão nos grupos que se formavam. Eram pessoas ricas, poderosas e humildes também, que vinham aprender o segredo do sucesso, da fartura e da felicidade. Era uma vida envolvente, experiências cativantes e o contato com aqueles seres de outros planos nos faziam reféns de nossa busca por cada vez mais...
A presença daqueles chefes espirituais era um pouco assustadora, mas assim como os respeitávamos e acionávamos contratos com estes, eles também se mantinham respeitosos conosco, cada qual cumprindo seu papel na contratação.
Eu assumi com o grande Senhor dos Contratos, o grande regente daquela organização, a tarefa de dedicar minhas mãos, meu dom, minha mente a escrever nos meus livros o resultado maravilhoso que aqueles pactos traziam para a vida daquelas pessoas. Assumi por amor espalhar, disseminar a narrativa emocionante e real daquela vida de sonhos que se realizavam, dos amores que aconteciam, dos objetivos que se concretizavam. E com esta dedicação meus livros venderam como nunca, cada lançamento trazia milhares de adeptos que desejavam vivenciar aquela vida.
Passei mais de 20 anos escrevendo com afinco, vendo todos os dias relatos dos que conquistavam, ao entrar na seita, seus sonhos, seus objetivos, de uma forma que antes nunca surtira o efeito desejado.
Eu sentia o prazer na alma de sentar ali, fechar meus olhos físicos e ir com aquela pessoa até o submundo e presenciar seu contrato, suas promessas e a colaboração daqueles chefes para que tudo saísse a contento na terra. Eu viajei por mentes, mundos, consciências externas e vivi o que ninguém jamais viveu até ali, como se um poder maior me desse a chance de ter aquele dom e poder usa – lo para fazer o que eu amava, narrar e transformar em livros, em asas, para que estas alçassem voo e aterrizassem nas mãos e no mundo daqueles que desejavam aquele mundo de contratos e sucesso.
Eu amava mais do que tudo poder mostrar que tudo aquilo era real e que haviam resultados físicos para comprovar...
Dentro daquele mundo eu casei com uma mulher que seguia os preceitos daquela filosofia de vida, fomos muito felizes juntos e nos respeitamos até o momento final, lado a lado trabalhando para disseminar aquela vida que nos dava tudo que desejávamos e que nos arrancara do vazio existencial.
Convivi por longas décadas com meu sócio, o qual também tinha uma vida de sonhos e disseminava aquele trabalho. Fora uma união de sucesso e amizade entre nós três.
Mas ao longo dos anos eu comecei a acordar com resquícios de sonhos na minha mente... De um homem que conversava comigo durante o sono físico e que tentava me dizer algo, que ao acordar, eu não lembrava. Eu havia, em um contrato, dado permissão para que um véu de energia me protegesse de ataques que tentassem me desviar daquela missão que era divulgar aquela filosofia de vida, o qual não me deixava relembrar o que era conversado com aquele homem de branco que me abordava paciencioso todas as noites...
Por longas décadas eu vivi daquele momento de entregar – me a minha mesa de trabalho e voar além das asas da imaginação, indo ao encontro do grande senhor dos contratos e ouvindo – o me orientar para que pudesse registar nos livros seus ensinamentos. Mas aquele homem de branco não saíra mais dos meus pensamentos...
Por longas décadas ele tentara me orientar que eu estava em um rumo desconhecido e perigoso... Tentara me mostrar que os contratos iam além do que víamos e que toda aquela vida de sonhos era cobrada mais cedo ou mais tarde.
Presenciamos muitos adeptos relatarem o aparecimento do tal vazio existencial outra vez, e este cada vez mais forte e aterrador, que os contratos não conseguiam sanar, eu mesmo me sentia assim em alguns momentos e então recontratávamos mais coisas, mais subterfúgios para não sentir aquele monstro...
Muitos suicidaram – se, perderam a fé nos contratos, abandonaram a seita e sumiram sem deixar rastros, acabávamos sabendo depois de seus suicídios... O que começou a me intrigar e aumentar o vazio...
Ali na montanha havia um precipício que não conseguíamos divisar o fim e onde, em momentos de sono físico, nossas almas eram levadas para assistir a outras almas, dos que queriam desvincular – se, serem ritualizadas e jogadas naquele abismo... Nos faziam registrar a ameaça e nos faziam registra – la no inconsciente para não os desobedecer, com medo de ter o mesmo fim... E quando acordávamos, esquecíamos a ameaça, mas guardávamos o medo, o pavor de passar por aquilo...
Eu perdi para a morte a esposa e o sócio, com pouco tempo de diferença, o que me deixou completamente só naquele lugar. O que eu sentia, o que eu via não era mais o que presenciara no começo. Por mais que tentassem me coagir durante o sono, os resultados físicos que eu observava nos participantes não era a vida de sonhos que haviam nos prometido. Todos estavam tendo desfechos estranhos... E o prazer de narrar do começo começou a se confundir com o vazio e insatisfação de sempre acordar com a lembrança daquele homem de branco que tentava me mostrar outro caminho e eu lhe mostrava que nossas escolhas eram corretas, pois não comprometíamos ninguém, somente a nós mesmos naqueles contratos e que não havia mal nenhum em desejar tudo de que éramos merecedores.
...Eu estou sentado na beira do precipício, faz alguns anos que parei de escrever com tanta intensidade e deixei de receber adeptos ali na estação, a vida sem minha esposa e sem meu sócio não tem o mesmo valor, a mesma felicidade de antes.
Estou com mais de 50 anos e sinto o vento gélido açoitar meu rosto, minha cabeça e meu corpo. Estou bastante fora da realidade, cobram – me um pacto que não sinto mais o prazer de realizar, que é escrever para cativar mais adépitos. Simplesmente ignoro os chamados, as descidas e durante o sono eu fico ali, ouvindo o homem de branco, mas ainda discordo de muito que ele fala – me.
Eu vou me matar, eu já decidi, quero jogar – me naquele buraco negro e cair para sempre, em um vazio que se apaga com a queda...
Cortei meus dois pulsos, profundamente e sei que tenho pouco tempo para realizar com sucesso aquele ato, pois não desejo continuar vivo. Então, com precisão e força, eu passo a grande faca afiada no meu pescoço e lanço meu corpo para a frente, não sem antes sentir como se alguém chutasse minhas costas para que eu caísse de uma vez. Então eu sinto o vácuo do abismo, o frio gélido das montanhas e a dor momentânea dos ferimentos...
Mas nada se apagou, nada sumiu ou eu deixei de existir como castigo, que era o que nos prometiam se desobedecêssemos...
Eu acordei no chão do abismo, ainda o mesmo homem, ainda o mesmo escritor, ainda o mesmo sonhador... Mas ao meu redor estavam outras pessoas, as que sumiam dos grupos, as que sabíamos ter morrido pelo suicídio... Todos andavam por ali, naquela gruta ou caverna, eu não sabia definir aquele isolamento, como se estivessem alienados, vazios de si mesmos, a esmo... E eu fazia o que sabia fazer de melhor, eu observava e tentava concatenar, entender o que estava acontecendo comigo, com todos... Volta e meia um gigantesco trem cruzava o meio da caverna transportando seres alienados, aos gritos, olhos negros profundos, a loucura a enraizar – se pela alma sem fim... E eu recuava e sentia medo de que me fizessem entrar naquele trem de almas do purgatório, que eram remanejadas para outros lugares... Então meus olhos focavam uma jovem moça que sempre estivera por ali, andando por entre aquelas almas desnorteadas, usando um longo vestido e que acudia a todos que lhe solicitassem cuidados. Ela era a personificação da minha segurança, da minha paz e da minha estabilidade mental naquele lugar... Era como uma irmã mais velha, mais madura, uma enfermeira sem uniforme... Só o fato de olhar para ela, me dava a calma que eu lutava para manter, acalmar a culpa que eu carregava na minha ignorância... Por muitos anos eu a observei sem coragem de chama – la e ela nunca me abordou... Continuava seu trabalho de curar, acalmar e estancar feridas...
Nos momentos de loucura em que me via açoitado por cobranças mentais que invadiam aquele lugar e que provinham do Senhor dos Contratos, eu fugia para minha casa no topo da montanha e entrava no meu amado refúgio de escritor e tentava escrever para fugir da opressão, mas ele não me deixava, pois eu tinha um pacto para escrever somente para ele e como ele desejava. Então eu voltava para a caverna no precipício e ficava analisando o desfecho de toda aquela gente e o desfecho de seus contratos...
E quando não suportei mais a inatividade, a culpa e a dor por não conseguir escrever eu olhei para aquela moça e fiz questão de ser notado por ela, e então ela veio ao meu encontro com um sorriso.
- Precisa de algo? (Perguntou – me gentil.)
- Você poderia me dar papel e caneta? (Foi minha dor humilde que falou por mim naquele momento, eu não queria mais nada, nem cura, nem cicatrizar minhas feridas ou usar o tempo dela, eu só queria meus grandes amores, papel, caneta e a liberdade de escrever, nem que fosse daquele lugar.)
Mais que depressa ela voltou com blocos de papel e canetas e me deixou só... E dali em diante eu fiquei sentado naquele canto sozinho, sem interferir em nada e sem querer entender o que quer que fosse, escutei minha alma e minha intuição e fiz naturalmente o que me pediam: narrei cada história que eu presenciava ali dentro, cada rosto transfigurado que chegava e o assombro daquele trem de almas do purgatório que fazia escala ali... E dei graças a Deus por ter aquele canto, escorado na rocha, sentado no chão, com meus blocos, minha caneta e minha liberdade de escrever sem interrupções. Narrei cada desastre, cada desfecho das almas que viam que os pactos e seitas não eram o que prometiam e o que mostravam... Cada tragédia que ali dentro repercutia e contei a verdade da alma e não mais dos olhos ignorantes e egóicos...
A moça se aproximou e apontou para os amontoados de blocos que haviam ao meu lado, pilhas e pilhas deles...
- Você escreveu muito todo este tempo...
Eu olhei as pilhas de blocos, meus tesouros naquele lugar e sorri com paz na alma.
- Sim...
Eu me sentia em paz, porque contava a real faceta de uma filosofia de vida que destruíra todos que passavam por ali, como se isto fosse uma das muitas chaves que soltariam minha algemas...
- Venha comigo, algumas pessoas querem te ver.
Olhei para os blocos e ela me acalmou: - Vamos guardar para você em local seguro, eles serão devolvidos assim que vier comigo.
Vi muitos enfermeiros recolhendo meus blocos, ali havia muitas vidas narradas e minha própria.
- Há mais de 20 anos tu está aí, escrevendo... (Ela me disse com suavidade.)
Eu me surpreendi e a segui por um corredor de pedras que transformou – se em um corredor iluminado e cheio de portas. Ela abriu uma delas e deu – me passagem.
Seres esperavam – me de pé e fui recebido com simplicidade.
- Somos o conselho kármico e estamos aqui para organizar seu renascimento. Você irá renascer e levará com você tudo que escreveu, a experiência e o dom da mediunidade, mas desta vez, irá narrar o que realmente acontece nos contratos, nos pactos, nas seitas... O lado obscuro que os iniciados não são informados. E teu resgate missão será resgatar o sócio e a esposa e todos aqueles que perderam – se ignorantemente nesta senda e que precisam desfazer os contratos assumidos em outras vidas.
Teu dom servirá para alertar e resgatar com o Início dos Contratos Sagrados. Deste trabalho acontecerá o nascimento de livros que contarão o que ocorre no submundo e o que acontece de maravilhoso com quem decide enfrentar este lado e desvincular – se.
Ali havia homens e mulheres em espírito, muito sérios, firmes, porém amorosos, sabiam o que eu tinha de fazer e estavam ali para me informar.
- Se não desejas esta missão de resgate, o deixaremos livre, porém ainda ligado os Senhor dos Contratos Deturpados e teu dom de escrever e presenciar o outro mundo, sob a égide das mãos dele.
Senti – me muito mal naquele momento, como se não fosse merecedor de renascer... E passei mal. Disseram – me para deixar sair de dentro de mim o monstro das limitações que assumi ao contratar servidão, pois tentariam me fazer desistir de escrever sobre o bem de descontratar... E eu permiti que aquele mal estar me açoitasse e partisse naquele momento... Quando ergui meus olhos, na roda de seres, estava o homem de branco que me visitava quando estava vivo na terra. Ele abriu um enorme sorriso e seus olhos brilharam quando o identifiquei. Senti vergonha de minha teimosia em relutar com ele e tentar convence – lo de que eu estava com a razão... Mas ele veio ao meu encontro e me abraçou em sua imensidão... E eu me senti nos braços de um pai, amado e seguro de tudo que poderia me fazer mal...
Era Wal que me abraçava e me tirou daquele lugar, levando – me para minha consciência como Paula. Abaixou – se colocando os joelhos no chão e eu também fiz o mesmo, para ficar mais condizente com a enorme estatura de Wal... Ele me abraçou e beijou minha testa, me falou do meu poder, do que eu podia com minha mente e com meu dom de escrever e ministrar os contratos...
Me falou dos futuros Ministrantes dos Contratos e da minha missão com esta ferramenta... E eu fiquei abraçada a ele, sentido sua força, seu amor por mim e a fé que ele, uma alma evoluída, colocava em minha alma a engatinhar pela escuridão de minha inconsciência...
E ali eu soube que nada era um acaso do destino, as almas que vinham não eram coincidência... O aviso do livro não era uma ilusão...
Os ventos das programações começavam a soprar e precisávamos trabalhar para a tempo, desenvolver um trabalho que irá me acompanhar em muitas outras vidas que terei...
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