quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Wal, eternamente me buscando e resgatando...



A Solidão como Única forma de aceitar minha Presença.

“A solidão interna é a melhor companhia que um espírito pode aceitar para aprender a estar consigo mesmo e aprender o respeito para com os que o seguem vida a fora no infinito encontro de caminhos”.

... Estou em um lugar de espaço limitado, posso ver um universo escuro, como se eu estivesse longe do orbe que meus pés pisavam, como se eu estivesse presa em um espaço intimo onde ninguém lembra de minha existência.

Presencio alguns servos do orbe em que habitei virem ao meu encontro, entrando ali por um portal que nunca consigo acessar. Trocamos informações e ainda fazemos pactos relacionados a minha rebeldia. Não aceito ninguém ali a não ser estes seres estranhos que contratam comigo, fiéis, acordos de manter – me em eterno sabotamento de minhas forças e poderes. Estou enclausurada ali, não saio, não vejo locais e muito menos possuo o que já possui um dia, quando fora senhora de muitos orbes e servos.

Faz muito que ali estou, entre a escuridão, o exílio e a rebeldia por ser podada em meus potenciais.

Meu livre arbítrio ainda permite que estes servos poderosos estejam em visitação, mas não tenho permissão para sair, exercer meu poder ou ser livre. Estou confinada em um espaço pequeno, de rochas negras e chão arenoso e seco. Pouco faço, ando de um lado a outro, observo em total mutismo. Sinto que estou mais tranquila do que já fui um dia e que aceitei aquele exílio.

Dali posso observar o universo particular que me rodeia e pouco o compreendo ou como parei onde estou, tudo de minha mente se apagou, como se tudo houvesse sido suspenso de repente e eu houvesse acordado ali, naquele infinito particular.

Possuo o corpo feminino, muito alto, desenhado, jovem e belo, mas não tenho observado isto, mas uma introspecção profunda que toldou – se sobre minha consciência. Sinto o silêncio como jamais senti, sinto a calma como jamais a tive... Sinto que a séculos estou ali, como se o tempo não passasse, como se o tempo voasse além da minha compreensão.

O portal abriu – se e vislumbro um ser de luz passar por ele e pousar seus pés no chão arenoso, ele veste uma túnica leve e clara e tem um sorriso nos lábios. Olha – me expectante, amigável, mas pouco lhe dou importância. Ele sempre trás um livro nas mãos e fica por ali, esperando que eu lhe de abertura para falar.

Não indaga – me e não me faz sentir deslocada, apenas ficamos ali, naquele universo paralelo, respirando o mesmo ar...

A presença dele me faz sentir bem, sua energia singela e calma desperta algo esquecido em minha mente...

Com o passar do tempo, longo tempo eu me aproximei dele, pois não me parecia estar ali para obrigar – me a alguma coisa... Meus olhos insistem em estar sempre focados nos dele quando o indago e vejo o brilho que há naquela alma. Com o longo do tempo em que estou ali nos tornamos amigos, confidentes e ele mostrou – se a minha alma como uma companhia que eu poderia indagar sem medo, sem competições ou armaduras, as quais eu estava tão acostumada. Tudo que lhe indagava era respondido de forma suave, calma e fazendo – me refletir sobre tudo que acontecia ali...

-Por que estou aqui? Que lugar é este?

Há muito eu queria entender o que estava fazendo ali, por que não conseguia sair é só então tivera minha própria permissão e crença de auto - merecimento para perguntar – lhe.

_ Seu corpo está em um local, você está adormecida e quem está aqui comigo é a sua consciência. Tudo que há aqui e ao nosso redor é a sua consciência...

_ Por que estou aqui? Não lembro de nada e somente identifico estes seres que vem e que seguem ordens que lhes dou, assim que passam o portal eu esqueço o que lhes pedi...

_ Estão aqui porque seu livre arbítrio os trás até aqui, não podemos interferir nisto, eles obedecem ordens suas e trabalham a favor da sua rebeldia. Já que não pode mais fazer o que sempre fez por estar reclusa, você destrói suas lembranças e atrasa sua evolução como forma de rebelar – se contra quem a trouxe para cá e a protege.

_ Por que estou aqui?

_ Você é um espírito muito poderoso e por toda uma existência usou seu poder para comandar e com este comando, muitos perderam – se pelo caminho da manipulação mental deturpada. Você está aqui e não tem permissão para sair até que sinta – se merecedora de estar em outro lugar que não este. Deixar você sair seria muito perigoso, está aqui para um dia mudar sua forma de agir...

_ E quando vou sair daqui?

_ Somente quando sentir que é o momento de controlar e equilibrar este poder que a tem destruído e atrasado sua evolução. Sairá no dia em que aprender a estar consigo mesma e com as mudanças que precisa perceber. Enquanto isto, se desejar, posso vir lhe fazer companhia e conversar sobre o que está acontecendo...

Eu não disse nem que sim e nem que não, mas a partir daquela conversa muito tempo se passou e todos os dias ele veio estar comigo, sentando – se no chão de terra arenosa e seca para bater longos papos sobre o meu esquecimento. Nada do que havia ficado para trás persistia em minha memória, não lembrei de onde havia vindo, o que fizera e por que aquela alma masculina me dedicava tanta atenção. Com o longo das décadas que ficamos por ali sem sentir o tempo passar eu aprendi a observa – lo e respeita – lo, nunca revidando o que me ensinava, mas absorvendo com sofreguidão cada palavra que era proferida daquela boca sorridente.

Quando estava sozinha eu andava por aquele espaço confinado e podia vislumbrar algumas estrelas distantes, um céu escuro, como se nunca houvesse a luz de algum astro luminescente... Peregrinei naquele lugar tranquilo e esquecido e aprendi a acalmar a minha solidão.

...Ele está ali, sua luz não me faz ínfima, sinto tanta alegria ao estar em sua presença que ela não cabe dentro do meu peito e emociona – me. O tempo em que estamos ali, conversando é como se eu saísse de mim para estar em contato com um mundo que eu jamais havia penetrado, um mundo de observação, calmaria, confiança no que acontecia e amor... Sim, eu sentia um amor paciente por aquele espírito, por mais que eu não soubesse quem ele era e de onde havia vindo... Nunca perguntei quem ele era e porque eu sentia nas fibras de minha existência que ele sempre fizera parte de minha vida... Eu apenas confiava na minha intuição e isto era suficiente...

_ Tentei seguir a abertura do portal mais uma vez, enquanto estava aberto e não consegui ir adiante... (confessei calmamente).

_ Você só conseguirá sair daqui quando achar que merece estar em outro lugar, só você poderá criar esta oportunidade.

_ Sinto medo do que há lá fora...

_ Não tenha medo, apenas confie no momento e o momento irá se mostrar sem que você precise buscar por ele incessantemente...

Ele sempre olhou em meus olhos e ambos sorriram milhares de vezes em que ali estivemos juntos, mas nunca passou pela minha mente algo mais do que amor, um amor tão forte, tão respeitoso que me fazia sentir uma saudade inexplicável e uma emoção que me levava as lágrimas de gratidão. Nunca precisei falar de meu amor por ele, eu sabia que só eu precisava sentir aquilo dentro de mim, como se a distancia da partida dele e sua volta, todos os dias em que aceitei sua presença naquele infinito particular, eu estivesse ali como aprendiz de mim mesma, aprendendo a sentir e ser grata, despreocupada do que acontecia externamente naquele lugar ou em qualquer lugar do mundo...

Eu sabia que estava ali por ter exorbitado e ele sempre explicara – me que a minha carência doentia sempre me levara a tomar decisões precipitadas e deturpadas pela minha ignorância e rebeldia. Explicara – me desde o primeiro contato que eu estava ali porque em outros momentos eu havia me precipitado a despenhadeiros tenebrosos devido ao meu medo insano de estar só...

Eu sentia mais do que tudo que aquilo era uma verdade sem contestação, por mais que minha consciência não recordasse de nada do meu passado... Lembrar não era mais importante para mim, mas sentir e cada palavra que ele proferia tocava profundamente minhas verdades esquecidas... E quando ele partia para seus afazeres fora daquele local em que eu estava confinada, eu sentava no chão e procurava sentir tudo que acontecia comigo e não amis dava importância para pensamentos apressados e medrosos que tentavam roubar a paz de meus sentidos... Eu sentia uma ânsia enorme de estar só, de estar em contato com o que eu estava sentindo e não mais com o que eu pensava e foi um momento que descobri que eu apenas sentia e não mais pensava... Pensar me fazia mal e me confundia... Sentir o que estava dentro de mim me dava calma, rumo e serenidade para ser quem eu era e não quem minhas culpas haviam me transformado...

Eu precisava descobrir quem eu era, qual era o meu real poder para existir além do que eu havia feito ou deixado de fazer... Eu necessitava aceitar através do interiorizar quem eu era de verdade e o que fazer então...

Sair daquele lugar nunca foi minha preocupação, ali era tão aconchegante, silencioso e particular que eu aprendi a ser grata por ele e não me importar com mais nada...

Ele havia me dito para nunca ter pressa e suas palavras gentis incutiram em minha alma o valor do momento presente, do momento que eu estava vivendo... Estar ali era a única coisa que eu podia e sabia fazer no momento e só aprendendo a entender o que eu fazia ali é que poderia estar em outro lugar quando chegasse a hora...

... _ Eu abri os olhos por um momento e vi pessoas me observando, eu estava em uma cama rodeada por sorrisos e amor... vi tanta luz que tive medo e voltei...

_ Porque não ficou lá com eles?

_ Não me senti pronta, tive medo de falhar outra vez...

_ O dia em que você acreditar que merece abrir seus olhos em um lugar é porque você já merece estar nele e tem a força necessária para fazer o que tem de ser feito...

Aquelas palavras falaram alto a minha consciência que despertava tranquila, ainda exilada e guardei esta certeza...

Por longo período ainda perambulei tranquila ali naquele lugar, não insisti mais em seguir a abertura do portal para sair e apenas aceitei que eu sairia quando estivesse pronta...

...Ele veio me ver, segura minhas mãos e eu estou chorando de emoção serena, peço que ele vá embora e que não volte mais, pois preciso estar completamente sozinha para saber como estou. Ele está tranquilo e sorri com respeito, concordando com minha decisão. Eu o vejo partir para nunca mais voltar aquele lugar em que estou... Olho sua partida e uma vez mais ele se volta e olha nos meus olhos com um sorriso brando de aceitação. Eu sinto na minha alma que sei o que estou fazendo e que aquele momento me pede solidão...

Permaneço ali, caminho alguns metros, não há mais do que isto por ali e respiro a energia da semi obscuridade que há... Minha necessidade de estar em contato somente comigo me faz sentir prazer e gratidão. Sinto tanta paciência por saber o que há dentro de minha inconsciência e de minha consciência que não tenho pressa, medo ou preocupação, eu simplesmente sou o que sou e não mais o que fui um dia...

Estar presente e apenas sentir e usufruir da minha existência é esplendoroso e singelo... Sim a singeleza era algo que eu jamais cultivara na ânsia de ser e ter... Agora eu sentia nos recônditos de minhas forças e de uma fé inabalável, que eu conseguiria estar só externamente, por que havia encontrado minha presença interna e a crença no meu poder de ser boa e a caminho da aprendizagem. Eu não sentia culpa ou dor, eu sentia felicidade, eu sentia tanta calma por descobrir quem eu era e o que eu viera fazer que comecei a olhar realmente aquele lugar e a apreciar as rochas negras que haviam ali desde o começo. Toquei- as enquanto senti a paz dentro de mim por não precisar de nada ou de alguém externo, até mesmo aquele homem que eu amava com toda minha serenidade e maturidade e que eu havia pedido que partisse... Eu precisava testar minha evolução naquele lugar, minha consciência desperta e eu sentia o amor paciência por tudo que habitava de bom ou de ignorante em mim...

Eu não era má ou culpada, eu não tinha pressa ou medo, eu não tinha ânsia de sair... Apenas confiava que eu fora feita para aprender e nada mais além desta inocência...

Toquei cada pedacinho de rochas que ali habitavam, respirei com gratidão e senti o chão arenoso me acariciar, eu poderia estar em qualquer lugar desde que me sentisse internamente daquela forma... Chorei a gratidão que não cabe dentro do peito e deixei ela me invadir de uma luz que até então eu nunca presenciara...

Ele havia me dito que aquele era mais um ciclo que eu deveria aproveitar para sentir as mudanças e deixar que elas me guiassem e foi o que fiz, procurei sentir cada sensação interna, cada gesto da minha alma em direção a si mesma e o meu retorno a minha essência foi o choro e o sorrir de contentamento por ter sido criada, amparada e direcionada pelo amor...

Segui tranquila em frente e segui o caminho do portal e quando cheguei no fim uma imensa luz se abriu a minha frente e me tragou... Eu acordei em uma cama de hospital, na espiritualidade superior e o primeiro sorriso que vi foi daquele espírito que pedi com todo meu amor e certeza que partisse e me deixasse comigo mesma... Muitos ao meu redor sorriam envoltos em uma luz que quase me cegava e ao sentar eu o abracei e choramos juntos a felicidade de apenas existir e ter nossos caminhos unidos pela presença... Ele me apertou entre os braços e senti como se eu houvesse ganho o merecimento de ser amada, sem precisar pedir ou dar algo em troca, apenas deixar aquela energia existisse na minha existência...

Chorei sentindo o amor, sentindo a saudade de uma presença amorosa ao meu espírito que me mostrou que a solidão é a primeira companhia que precisamos aceitar para sentir o verdadeiro amor... Chorei por existir e ter merecimento... Senti nos meus braços naquele momento a alma do meu Akhena... Minha alma sempre soubera que era ele e me mostrou que eu o reconheceria em qualquer lugar e que seu amor me buscaria em qualquer situação.

Choramos a celebração da crença e da fé na energia que é o amor... Enquanto os outros sorriam e vibravam amor ao nosso redor, nos perdemos em um mundo infinito e particular, depois de tantas separações pelo esquecimento, mas sorrimos banhados em gratidão por não existir o esquecimento definitivo.

Estar ali, serena e confiante no meu processo de auto - libertação me mostrava que eu sempre estava unida ao amor e ao que existia no universo...

A gratidão nos banhou e eu voltei de mim mesma com uma certeza absurda de que minha maior e mais amada companhia fora aceitar a companhia da solidão para descobrir quem eu realmente era e quem realmente estava comigo...




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