quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Sintomas de Outras Vidas




Há relacionamentos que nos fazem relembrar relacionamentos de outras vidas, muitas vezes estamos no aqui e agora, mas nossa mente está vivenciando os traumas de outras vidas, pelo simples fato de estar interagindo com o mesmo ou a mesma companheira em que desenrolou – se os traumas. É importante saber identificar sintomas “fantasmas, raivas fantasmas, desejos fantasmas, personalidades que afloram quando estamos com algumas pessoas em específico”, pois elas podem estar tentando nos mostrar que devemos ir a fundo para sanar estes distúrbios.

Sintomas da paciente: Tristeza ao lado do futuro companheiro, analisa comportamentos atuais dele e sente pânico de algo que não sabe identificar, sente – se cansada de tentar orientar ele, por mais que isto aconteça as vezes na vida atual. Parece que tudo que os dois vivem já está saturado, mesmo que não esteja... Os desentendimentos de hoje, coisas leves, tornam – se motivo para reações graves e excessivas. Sente – se rejeitada com a mínima atitude que ele venha a tomar.



Regressão:

...Me vejo sentada no chão, em uma madrugada, junto ao corpo de um homem... Sinto um desespero tão grande que é como se minha alma estivesse em frangalhos, sem poder ajuda -lo... Choro calada durante aquela noite, olhando minha barriga protuberante de quase nove meses de gestação. Aquele homem deitado no chão é meu marido, estamos juntos a mais d e14 anos e a vida sempre foi daquela forma. Tenho mais um menino de 4 anos...

Ele é alcoólatra e a vida tem sido tentar resgata – lo das ruas frias e sujas.

Choro tão intensamente por não conseguir leva – lo para casa, por não conseguir levanta – lo... Choro o desespero daqueles que se doam para alguém muito querido e não possuem forças para protege - los de si mesmos. Longos anos de dor solitária ao lado deste homem, de entrega, companheirismo e servilismo a sua doença. Longos anos enclausurada, julgada pela família e amigos, vizinhos, por suportar por tanto tempo aquela situação. Não sinto vontade de abandona – lo, o meu desejo maior e esperança é de que um dia ele acorde, se cure, erga a cabeça e lute ao meu lado e ao lado dos filhos.

Ele vive alienado, a vida tornou – se um eterno arrastar – se pela sarjeta, entre goles e mais goles de bebida.

Alguém veio e me ajudou a levar ele para casa, uma alma boa que não sei quem é, mas que passava e se condoeu de minha situação e de minha condição naquele momento. Ele é um homem extremamente grande e meu porte é muito pequeno.

As semanas se passaram e ele tem procurado emprego, levanta cedo quando está sóbrio e sai, voltando altas horas da madrugada, ou acordo com alguém me avisando de que ele está caído em algum lugar. É minha família quem ajuda nas despesas da casa e das crianças, cobram – me uma atitude que não tenho condições de tomar, deixa – lo e ir embora daquela casa com as crianças. Ele não é violento, mas é ausente, mal olha para mim e as crianças e não se envolve em nossas vidas, vive a vagar pela casa como se nós não existíssemos...

É noite e ele não voltou para casa... Olho pela vidraça e choro por saudades de uma vida que sonhei ter ao lado dele, dói em minha alma viver daquela forma e ver ele destruir – se todos os dias.

...Procuro cuidar bem de meu filho de 4 anos, vejo nele meu filho desta atual vida... É uma criança muito calma e comportada.

...Passaram – se algumas semanas, ele tem saído cedo, e voltado para casa de manhã, mas não embriagado...

Acordei cedo neste dia, tenho coisas para fazer antes de ir para o hospital, pois o bebê poderá nascer a qualquer momento. Meu marido acorda e sai outra vez, sem ao menos querer saber como estou ou nosso filho...

Minha vida tem sido cuidar dele, das coisas dele e rezar para que nada lhe aconteça de mal...

Ele não voltou para casa... Saio a noite pelo caminho que sei que ele percorre, pelo bar que passa... E o encontro caído na rua, no chão molhado, uma garoa fininha cai...

Mais uma vez eu não posso carrega – lo, mais uma vez sinto vergonha de estar ali e não peço ajuda, pois não tenho o direito de envolver os familiares naquela situação. Tento acorda – lo, tento levanta – lo, mas minha barriga não me permite. Choro mais uma vez, choro minha impotência perante aquela situação, choro a vida de solidão que tenho levado...Deito minha cabeça no ombro adormecido dele e fico ali ao seu lado... Minha alma se sente feliz porque ao menos, ele não vai ficar ali sozinho...

...Acordei em um hospital... Estou muito debilitada e em trabalho de parto. As dores são terríveis e sinto medo...

Estou tendo meu filho sozinha, com ajuda de médicos e enfermeiros, é um parto muito difícil, de muito esforço e luta. Sinto falta de estar amparada e protegida pelo homem que escolhi e que me escolheu para viver uma vida em comum. Depois de longas horas sofrendo para ter aquela criança, ele nasceu, um lindo menino que meu coração chamou de Pedro...

Estou internada ainda, tive uma hemorragia e já havia chegado ao hospital bastante debilitada pelos meses de preocupações em função de meu marido. A enfermeira me diz que terei de ficar ali, estou com uma pneumonia e o fato de eu andar dormindo na rua, sob frio e chuva para cuidar do meu marido, agravou a situação. Diz que meu filho está bem, mas que precisa de cuidados também.

Minha mãe está ali, meus irmãos também, cuidam de mim, mas não tocamos no assunto do alcoolismo de meu marido, aquilo já foi motivo de muitas brigas e afastamentos na minha família.

Ele não veio conhecer o filho, mas veio para dizer que estou fazendo falta em casa, que anda se sentindo sozinho e que quer que eu vá com ele. Mesmo debilitada, mas melhor, contrariando todos, eu vou embora com aquela criança nos braços. E vida tem sido cuidar de tudo enquanto ele sofre por não conseguir emprego e afoga a vida na bebida.

Ainda não me recuperei totalmente, estou muito magra e fraca, mas ele não se importa, não cuida das crianças ou ajuda em algo. Não me faz um carinho se quer e dorme como se nada estivesse acontecendo.

...Já se passaram 2 anos, meus filhos estão lindos e Pedro conta dois anos. É uma criança fofinha e muito linda, adora rir e correr pela casa.

Já é de manhã, levantei cedo para preparar café e ele entra na cozinha, fecha a porta e tira minha roupa, as crianças estão dormindo. Ali o que acontece é puramente sexo, sem carinho, sem demora... É o que ele sabe me dar. Sai e eu fico ali, pensando na falta do amor que eu nunca tive.

...Estou por alguns dias na casa de minha mãe, minha família tem uma condição financeira abastada e em nossa casa está complicado ficar com as crianças, pois faltam coisas. O deixei por uns dias e expliquei a situação...

...Voltei em casa, é noite, ele não nos procurou, ou sentiu falta das crianças, então, meu coração me pediu para ver o que estava acontecendo. Cheguei e entrei em casa, tudo estava silencioso.

Abri a porta do nosso quarto e encontrei ele e outra mulher em nossa cama, dormindo, nus... Ela abre os olhos e me olha, sorri como se gostasse de me ver ali, presenciando a cena. Ele acorda e me vê... Não digo nada, não reajo... Só sinto uma dor, uma decepção enorme...

Saio e encosto a porta do quarto como se não fosse eu, como de tudo acontecesse em câmera lenta e eu não ouvisse os sons... Ele tenta explicar, ignora a presença dela, tratando – a sem importância... Mas não me toca, eu estou longe dali, sinto dor demais para raciocinar com clareza...

Organizo algumas roupas das crianças e só e saio pela porta sem olhar para trás, como se meu mundo até ali ficasse suspenso, sem som, sem reação... Não ouvi uma palavra do que ele tentou me dizer, não prestei atenção nos dois, eu só precisava ir embora...

Deixei a casa que ganhei de minha família, deixei tudo, levei comigo algumas peças de roupas das crianças e meu carinho por ele, apesar de tudo, eu não o odiava, eu permanecera casada com ele, o cuidara e abrira mão de mim, por que queria estar com ele, porque gostava dele e queria vê – lo bem... Nunca cobrei nada, aceitei o que ele tinha para me dar e nunca reclamei ou briguei.

Depois daquele dia eu sofri como uma condenada a ausência dele, ouvi os filhos perguntarem dele e vaguei em um vazio sem resposta... Vivi na casa de minha mãe e continuei vivendo, organizei os meninos com quem pudesse cuida – los e consegui alguns trabalhos para nos sustentar. De alguma forma eu acordei de um transe, acordei para minha vida e para as crianças. Eu precisava continuar vivendo, eu era mãe e estava só...

Muitos meses depois alguém bateu na porta de casa, um vizinho do local onde eu morei com aquele marido, desesperado... Eu não deixei que terminasse o que dizia e sai correndo em direção ao carro de minha mãe, só senti quando cheguei naquela casa e entrei na sala... Ele estava sentado no chão, a cabeça pendida para um lado... Tinha se suicidado.

Eu me ajoelhei na frente dele e me permiti chorar, chorei os anos que logo tínhamos nos conhecido, chorei o casamento desastroso, chorei os filhos que eram a cara dele, chorei a saudade dele e daquela casa que eu tinha como um lar apesar de tudo que eu vivenciei ali dentro. E chorei pela primeira vez, de raiva, uma raiva que me fez bater nos ombros dele e gritar minha revolta por ele ser um fraco, um egoísta, frio, que nunca abriu os olhos para pensar em mim ou nos filhos... Vendo somente a vitima que vivia dentro dele!! Alguém me tirou dali, um policial havia chegado... Ouço vozes, vejo pessoas, mas estou longe outra vez, longe de mim, da minha dor...

Penso no que vou dizer para as crianças...

...Os anos se passaram, nunca reencontrei aquela mulher que estava com ele na cama... Mas eu senti quem ela era aqui nesta vida atual...

Criei meus filhos e estou com 42 anos de idade... A vida foi difícil, os trabalhos que arrumei foram desgastantes, mas eu venci, formei dois homens lindos que me queriam muito bem.

Nunca mais me envolvi com outro homem e nem senti esta vontade, convivi comigo e com minhas dores, convivi com meus filhos e segui uma vida reta, sem depender de minha submissão.

...Eu estou morrendo, tenho ao lado de minha cama, os dois filhos queridos que velam minha partida... Eu fui muito feliz e abençoada por aquelas duas almas que me acompanharam e me deram motivos para continuar viva e lutando depois de tudo que ocorreu... Eu podia partir em paz porque eu fiz minha parte e deixava dois homens seguros e honestos.

...Estou chegando em algum lugar com muita luz... Seres me esperam e sinto paz, sinto calma...O Mentor ali, me diz que vou passar por um tratamento para a tristeza, vou participar de grupos de estudos para tratar a questão da submissão...

...Vejo os grupos, mulheres que passaram a vida abrindo mão de si mesmas para viver a vida de outros, ali, estudando, compenetradas e é o que me dedico a fazer, me curar, equilibrar e sanar aquela tristeza que carrego dentro de mim...



Estou sorrindo, não me lembrava quando havia sorrido pela última vez, nem mesmo com as crianças... Eu havia vivido uma vida de seriedade na alma, nas atitudes, nas escolhas e era hora de abandonar este comportamento e expandir minha alma...

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